Título: CPIs provocam guerra entre governo e oposição
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 30/06/2005, O País, p. 11

Governistas aprovam urgência para a CPI do Mensalão e são acusados de tentar desviar o foco investigando reeleição de FH

BRASÍLIA. Com a ausência quase total de aliados do governo, foi instalada ontem de manhã a CPI dos Bingos, que vai apurar o caso Waldomiro Diniz e o envolvimento de casas de jogos com o crime organizado. No fim do dia, PSDB e PFL atacaram a iniciativa do governo de limpar a pauta da Câmara para permitir a votação do requerimento para a criação da CPI do Mensalão, que abrangeria as investigações sobre compra de votos desde o governo Fernando Henrique Cardoso. Com isso, os resquícios de entendimento entre governo e oposição sobre as investigações sobre corrupção e as novas CPIs ruíram.

O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), tentou evitar a CPI dos Bingos. Chegou a propor um acordo, que previa a mudança na CPI da compra de votos, retirando a intenção de investigar o governo passado. Mas o PFL insistiu e avisou que se houvesse quórum a comissão seria instalada.

Malta: "Se não viesse pagaria mico para mim mesmo"

Graças ao senador Magno Malta (PL-ES), a oposição conseguiu os votos necessários. A CPI foi aberta pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), integrante mais velho. Foi eleito presidente o senador Efraim Morais (PFL-PB) e vice, Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Malta afirmou que não foi procurado pelo governo e que não poderia se ausentar, porque foi dele o requerimento para criar a CPI.

- Se não viesse, pagaria mico para mim mesmo.

A escolha do relator caberá ao bloco do governo.

- Não temos objetivo de vingança, mas de esclarecer algo que incomoda a opinião pública, a corrupção - disse o senador Agripino Maia, do PFL.

A CPI só deve funcionar de fato em agosto, segundo a oposição. Mas Mercadante, agora, quer levar os senadores a trabalhar no recesso de julho.

- O governo Lula quis acabar com os bingos e a oposição não deixou. Espero que com essa CPI isso possa acabar. Defendo que a comissão trabalhe desde já, inclusive no recesso.

O requerimento da CPI da Câmara foi assinado em primeiro lugar por dois dos acusados de receber o suposto mensalão, Sandro Mabel (PL-GO) e José Janene (PP-PR). Para que fosse votado, o governo imprimiu edição extra do Diário Oficial, que trazia uma medida provisória para revogar outra. Para a oposição, essa CPI teria a função de abafar investigações profundas do mensalão.

- O presidente Lula botou as digitais na operação abafa - atacou o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC).

O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), disse que o presidente foi chantageado por sua base. O deputado Roberto Freire, presidente do PPS, também agiu em defesa da investigação mista.

- Isso não é chapa-branca. É um escárnio, uma burla, uma fraude. Admitir que pode haver uma CPI para apurar mensalão ou compra de votos patrocinada por quem está diretamente denunciado atenta contra a Casa e contra todos.

www.oglobo.com.br/pais

AS TRÊS COMISSÕES

CPI DOS CORREIOS

Criada em 25 de maio, é uma comissão mista (envolve Câmara e Senado). Presidida pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS), tem como relator o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Os 52 integrantes investigam o suposto esquema de corrupção nos Correios. Mas como há denúncias de superfaturamento de contratos de publicidade e a agência de Marcos Valério tem a conta da estatal, deve também apurar o mensalão. Tem prazo de 180 dias.

CPI DOS BINGOS

Criada em fevereiro de 2004 no Senado, foi arquivada em março: o governo conseguiu evitar que os partidos aliados indicassem representantes, inviabilizando a investigação das denúncias publicadas na revista "Época", que divulgou uma gravação na qual Waldomiro Diniz, assessor da Casa Civil na gestão de José Dirceu, pedia propina ao empresário de jogos Carlinhos Cachoeira. Em 22 de junho passado o STF determinou que o presidente do Senado indicasse os integrantes da CPI. Terá 24 senadores.

CPI DO MENSALÃO

A CPI da Compra de Votos é da Câmara, e deve investigar o suposto mensalão e também as suspeitas de compra de votos para aprovação da emenda da reeleição, em 1997.

Legenda da foto: AGRIPINO MAIA, Jorge Bornhausen (em pé), Efraim Morais e Mozarildo Cavalcanti comemoram a CPI