Título: LÍDERES IGNORAM TEMER E APÓIAM LULA
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 30/06/2005, O País, p. 12

Bancadas do PMDB ficam com o governo e devem ganhar duas pastas

BRASÍLIA. Os líderes do PMDB no Senado e na Câmara ignoraram a posição do presidente do partido, deputado Michel Temer (PMDB-SP), e anunciaram ontem que as bancadas no Congresso decidiram, por maioria - 19 dos 22 senadores e 52 dos 85 deputados - , atender à convocação do presidente Lula para firmar um pacto pela governabilidade que inclui a participação no governo. Com isso, Lula acelerou os movimentos da reforma ministerial, que pode ser fechada esta semana.

Lula deve dar mais dois ministérios ao PMDB. Um deles, provavelmente Minas e Energia, será destinado ao grupo do ex-presidente José Sarney. O nome mais forte ontem ainda era o do atual presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau. As outras pastas do PMDB ainda estão sendo negociadas. O certo é que Romero Jucá sai da Previdência e que Eunício Oliveira, se realmente se declarar candidato em 2006, deixa as Comunicações. A outra pasta do PMDB poderá ser a de Integração Nacional, com a transferência de Ciro Gomes - o "curinga" da reforma, segundo auxiliares de Lula - para a Previdência ou outro ministério.

Segundo esses interlocutores, Lula já tem o desenho da reforma na cabeça e há alguns dias começou a chamar os ministros candidatos e avisar que devem sair do governo. Com Ciro, já conversou sobre a possibilidade de mudança e o ministro não criou obstáculos, nem mesmo diante da possibilidade de perder o comando das obras de transposição das águas do São Francisco.

- A obra não é minha. É do presidente Lula - disse Ciro ontem a políticos aliados.

O único com chances de ser poupado do critério de demissão dos candidatos é o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, que deve continuar sendo o representante do PSB no governo.

Olívio Dutra e Humberto Costa devem mesmo sair

O PCdoB deve perder uma de suas duas pastas: a hipótese mais provável ontem era a saída de Agnelo Queiroz (candidato no Distrito Federal) dos Esportes e a transferência de Aldo Rebelo da Coordenação Política para outra pasta - Defesa ou Trabalho. Aldo, assim como Jaques Wagner - que deve ficar com as funções de articulador -, anunciaria que não é candidato em 2006.

Lula já teria deixado claro que saem os petistas Olívio Dutra e Humberto Costa. A pasta das Cidades pode ser fundida à Integração ou dada também ao PMDB. Para a Saúde, o presidente busca um nome representativo da sociedade.

A formalização do acordo com o PMDB governista com Lula foi articulada ontem pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para evitar a necessidade de mais uma audiência desgastante de Temer com o presidente. Lula almoçou com Renan e Sarney. Segundo Renan, as conversas entre as duas alas do PMDB estão esgotadas e daqui por diante, se Lula quiser conversar com o partido, vai procurar aqueles com quem conta:

- Tentamos trazer o partido todo. Não foi possível. Paciência.