Título: MACONHA É DROGA MAIS CONSUMIDA
Autor: Cristina Azevedo
Fonte: O Globo, 30/06/2005, O Mundo, p. 30

ONU diz que 4% da população mundial entre 15 e 64 anos usaram entorpecente em 2003

A maconha é a droga ilícita mais traficada e consumida em todo o mundo. Das 200 milhões de pessoas que usaram drogas pelo menos uma vez entre 2003 e 2004, 160 milhões, ou 4% da população com idade entre 15 e 64 anos, consumiram maconha, revela o Relatório Mundial sobre Drogas, do Escritório das Nações Unidas para Droga e Crime (Unodc, na sigla em inglês). Isso representa um aumento de 14 milhões de pessoas em relação ao ano anterior. O relatório não faz distinção entre drogas leves e pesadas e alerta para a tendência de crescimento do consumo da maconha e seus derivados.

- Chegamos à conclusão de que essa diferença entre drogas leves e pesadas é muito teórica. Há pessoas que depois de terem consumido maconha por algum tempo ficam dependentes, como usuários de cocaína ou heroína ou drogas sintéticas - conta Giovanni Quaglia, representante do Unodc para Brasil e Cone Sul. - O relatório mostra também um uso muito grande de haxixe (resina da maconha), que é bastante potente. Então a maconha tradicional está sendo substituída em muitos países da Europa por outra com alto conteúdo ativo, transformando-se numa droga bem pesada.

Europa é principal destino de produção

Para Quaglia, que divulgou o relatório ontem no Rio de Janeiro, uma decisão de saúde pública que os países devem que tomar é considerar todas as drogas perigosas. Somente a maconha movimenta cerca de US$113 bilhões no varejo, mas se for considerado o mercado global de drogas, o valor chega a US$321,6 bilhões.

A Europa é o principal destino da produção de maconha e haxixe. Como país, a Austrália registrou um dos maiores consumos do mundo, chegando a 13,9% da população entre 15 e 64 anos. O país teve ainda um alto consumo de ecstasy (4,2%) e anfetaminas (4%).

Entre as novidades do relatório está o Índice de Drogas Ilícitas (IDI), que a partir de dados fornecidos pelos próprios governos estabelece parâmetros para a comparação do problema da droga entre os vários países, uma espécie de medida padrão, levando em conta produção, tráfico e consumo.

América do Sul: a 2ª região crítica

O IDI classifica o Oriente Médio e o sudoeste da Ásia como as regiões mais críticas, com um índice de 52,67, devido principalmente à alta produção de ópio no Afeganistão e ao intenso tráfico nos países vizinhos. Em segundo lugar vem a América Latina (28,26), com a produção de cocaína na região dos Andes: embora o cultivo da coca tenha diminuído na Colômbia em 2003, aumentou em Peru e Bolívia.

O relatório levanta também a questão do tratamento de dependentes químicos e mostra que nas Américas a principal droga associada à necessidade de tratamento é a cocaína. Segundo o relatório, cerca de 13,7 milhões, ou 0,3% da população mundial, usaram cocaína entre 2003 e 2004. Ele mostra ainda o consumo de outras drogas, como anfetaminas (26,2 milhões), ecstasy (7,9 milhões), opiáceos (15,9 milhões) e heroína (10,6 milhões).

Para Quaglia, o relatório é um instrumento importante para os governos desenvolverem suas políticas de saúde pública, e ele pede atenção também para o consumo de outros tipos de drogas mais aceitas pela sociedade, as chamadas drogas lícitas. Segundo o relatório, o número de usuários de drogas permitidas é bem superior aos das drogas ilícitas: cerca de 30% da população mundial usam tabaco e 50%, álcool.

Somente a maconha movimenta cerca de US$113 bilhões, mas se for considerado o mercado global de drogas, o valor chega a US$321,6 bilhões

Legenda da foto: MACONHA: forma tradicional vem sendo substituída por derivados mais potentes