Título: LULA: NUNCA PEDIREI PARA ENGAVETAR
Autor:
Fonte: O Globo, 01/07/2005, O País, p. 13

`Quanto mais poder temos, mais cuidado temos de ter ao abrir a boca¿, diz

BRASÍLIA. Em discurso proferido ontem durante a cerimônia de posse do novo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma defesa incisiva do combate à corrupção. Lula garantiu que jamais pedirá a Souza para arquivar qualquer investigação que possa prejudicar o governo.

¿ Pode ter certeza absoluta: você pode ser chamado por mim para tomar café ou para participar de alguma atividade, mas você nunca será procurado pelo presidente da República para pedir que engavete um processo contra quem quer que seja neste país ¿ disse Lula, dirigindo-se ao novo procurador-geral.

Ele disse ter escolhido o novo chefe do Ministério Público não por amizade, mas em respeito à sua independência e imparcialidade. Lula também aproveitou a ocasião para criticar as pessoas que defendem investigações desde que não sejam elas próprias os alvos.

Ao defender investigações amplas contra práticas criminosas, o presidente ressaltou que nem sempre os acusados têm a chance de se defender e, muitas vezes, são condenados imediatamente pela opinião pública. Ele cobrou de Souza equilíbrio em sua atuação como procurador-geral que se estenderá pelos próximos dois anos.

¿ Eu sempre acho que em tudo na vida tem que ter equilíbrio. Eu sempre fico muito magoado quando, muitas vezes, as pessoas são execradas antes para depois provarem que são inocentes. E não têm nunca o mesmo espaço para provar a sua inocência. O equilíbrio é necessário em função da responsabilidade das instituições. Quanto mais poder nós temos, mais responsáveis nós temos que ser. Quanto mais poder nós temos, mais cuidado temos que ter ao abrir a boca e proferir uma palavra ¿ disse o presidente.

Lula disse não ter interferido na gestão de Cláudio Fonteles, que foi o autor dos pedidos de abertura de inquérito contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ambos aceitos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).