Título: Agência de Valério pagava contas de procurador
Autor: Bernardo de la Peña e Francisco Leali
Fonte: O Globo, 01/07/2005, O País, p. 9

Conselho do qual Glênio Guedes faz parte arquivou punição a diretor do Banco Rural ligado a publicitário mineiro

BRASÍLIA. Apontado como o operador do esquema de pagamento de mesada de R$30 mil a deputados aliados de PP e PL, o publicitário mineiro Marcos Valério mantinha contatos freqüentes e pagava contas do procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes, integrante do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional. Guedes, que mora no Rio, teria a conta de seu telefone celular custeada pela SMP&B, agência de Valério.

A agenda de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário, registra entre maio e dezembro de 2003 mais de dez referências ao procurador. São compras de passagens aéreas, pagamentos de hotéis em Brasília e São Paulo e agendamento de encontros.

Responsável por julgar em segunda instância os recursos administrativos apresentados pelas instituições financeiras multadas ou punidas pelo Banco Central, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela Secretaria de Comércio Exterior, o conselho recebe pareceres de Guedes sobre casos em julgamento. Ele e outro procurador atuam no órgão. Guedes foi indicado para o cargo em 1998, pelo Ministério da Fazenda.

Entre os processos analisados pelo conselho estão casos que envolviam o diretor do Banco Rural José Augusto Dumont. Marcos Valério também tinha ligações com o dirigente do Rural e chegou a acompanhá-lo numa visita ao BC.

No dia 18 de agosto de 2003, o conselho julgou um processo contra o Rural. O recurso apresentado pelo banco foi aprovado e a punição de afastar José Augusto Dumont por três anos das funções de dirigente foi arquivada. Glênio Guedes não estava no dia do julgamento. Segundo a agenda de Fernanda Karina Somaggio, neste dia Guedes estaria em São Paulo, hospedado no hotel Golden Tulip Plaza juntamente com Marcos Valério e seu advogado Rogério Tolentino. O conselho não informa se Glênio Guedes assinou o parecer que foi julgado ou se o documento foi produzido por outro procurador.

A PF apreendeu junto com a agenda da ex-secretária um voucher da Flytour Viagens Turismo em nome de Glênio Guedes. Dele consta reserva para hospedagem nos dias 10 e 11 de setembro de 2003 no Hotel Mercure Apartaments, em Brasília. O custo da diária, paga pela agência, seria de R$146. De acordo com registros na agenda, Guedes teria se hospedado também no mesmo hotel nos dias 26 e 27 de agosto de 2003.

Segundo Fernanda Karina, Guedes tinha a conta do seu telefone celular pago pela SMP&B.