Título: BC: MAIS INFLAÇÃO, MENOS CRESCIMENTO
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 01/07/2005, Economia, p. 25

Banco revê previsão de IPCA para 5,8% e alta do PIB para 3,4% este ano

BRASÍLIA e RIO. O Banco Central (BC) espera uma variação de preços maior e um crescimento menor da economia em 2005. O Relatório Trimestral de Inflação da instituição, divulgado ontem, subiu de 5,5% para 5,8% a estimativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, acima da meta oficial de 5,1% que o BC persegue. No entanto, os diretores que compõem o Comitê de Política Monetária (Copom) vêem melhora significativa no comportamento da inflação nos últimos dois meses.

Com os juros mais altos, a projeção de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 4%, no relatório de março, para 3,4%, em junho. Para 2006, a previsão da autoridade monetária para o IPCA diminuiu de 3,8% para 3,7%, abaixo da meta de 4,5%.

Segundo o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, a projeção mais pessimista para a inflação deste ano é justificada pela forte pressão exercida pelo preços agrícolas no começo do ano, devido a problemas climáticos, e pela revisão para cima do reajuste de tarifas como ônibus urbano e energia elétrica.

Bevilaqua diz, porém, que o quadro mudou para melhor a partir de maio, no caso do IPCA, e nos primeiros dias de junho, em relação aos demais índices de inflação, que registram sucessivas deflações - ou seja, salientou, surgiu um movimento de queda generalizada dos preços. Ele garantiu que, apesar de prever inflação acima do objetivo central, o BC ainda busca a meta de 5,1%, e enfatizou que o fraco desempenho do PIB no primeiro trimestre deve dar lugar a uma aceleração a partir do segundo semestre.

- Ainda tem muita água para rolar neste ano. Foi assim em 2003, e depois houve uma reversão de expectativas de inflação no segundo semestre - disse o diretor do BC, acrescentando que as projeções da instituição consideram juros em 19,75% ao ano e dólar a R$2,47.

Alimentos ajudam a derrubar IPC-S para 0,04%

Para Bevilaqua, há fatores que ainda podem influenciar negativamente o comportamento da inflação. No mercado doméstico, ele apontou risco de a indústria não conseguir aumentar sua capacidade de produção diante do reaquecimento econômico, e de uma piora nas expectativas de inflação dos agentes econômicos - um dos balizadores da política monetária.

No cenário internacional, frisou o diretor, o perigo continua sendo a disparada da cotação do petróleo, que pode pressionar o preço da gasolina:

- É grande a incerteza no mercado de petróleo para o futuro, mas ainda trabalhamos com reajuste zero da gasolina neste ano.

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) de 23 de junho, divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi o menor desde a quarta semana de setembro de 2004: 0,04%. Os alimentos, em especial hortaliças e legumes, foram os principais responsáveis pela queda do índice.

COLABOROU Fabiana Ribeiro