Título: PF PRENDE 24 PESSOAS POR LAVAGEM DE DINHEIRO
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 01/07/2005, Economia, p. 27

Operação Monte Éden, em 7 estados, investigou escritórios de advocacia que usavam Montevidéu para fraudes

SÃO PAULO. Após seis meses de investigações, com base principalmente em escutas telefônicas, a Polícia Federal (PF) prendeu ontem em sete estados 24 pessoas, entre advogados e empresários, envolvidas em um esquema de lavagem de dinheiro a partir de empresas criadas em Montevidéu, no Uruguai. Um dos presos na operação, batizada como Monte Éden (em referência a Montevidéu e a paraíso fiscal), é o advogado e tributarista Newton José de Oliveira Neves.

Oliveira Neves, que foi detido em casa e teve a prisão preventiva decretada por cinco dias, cuidou dos assuntos tributários do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, acusado de desviar R$169 milhões das obras superfaturadas do TRT-SP.

Apenas no escritório do tributarista, segundo policiais, procuradores da República e agentes da Receita Federal, foram apreendidos documentos que apontam que 50 dos clientes sonegaram R$150 milhões.

Advogado teria ligações com Chebabe, de Campos

De acordo com a polícia, o advogado teria ligações estreitas com o empresário do ramo de combustíveis Antônio Carlos Chebabe, de Campos, apontado como um dos principais articuladores do esquema de adulteração de combustíveis no país. Chebabe, preso em 2004 e denunciado por sonegação e envio ilegal de dinheiro ao exterior, voltou a ser detido ontem. Outros quatro escritórios de advocacia estariam envolvidos.

- É sem dúvida senão a maior, uma das maiores quadrilhas especializadas em lavagem de dinheiro no país - disse o superintendente da PF em São Paulo, José Ivan Lobato Guimarães.

A operação contou com 500 policiais federais. Ao mesmo tempo em que faziam devassa nos escritórios de advocacia, os agentes também cumpriam mandados de prisão em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ceará e Paraná.

Cerca de 80 agentes da Receita acompanharam a operação. Em São Paulo, três procuradores da República estiveram em escritórios de advogados em busca de provas.

Sob a tutela de "blindagem patrimonial", os escritórios de advocacia, segundo agentes federais, constituíam empresas no Brasil em nome de laranjas, para receber o patrimônio que os clientes desejavam proteger do Fisco, transferido em seguida por meio de contratos simulados de compra e venda.

A seguir, a quadrilha constituía uma offshore no Uruguai, que ficava em poder dos verdadeiros proprietários do patrimônio, sem que, no entanto, houvesse a identificação. O controle se dava por meio de ações ao portador, permitidas naquele país. Do Uruguai, o dinheiro seguia para paraísos fiscais.

Legenda da foto: POLICIAIS NO escritório de advocacia de Oliveira Neves, onde foram apreendidos diversos documentos