Título: IMPASSE EM PROTESTO DE AGRICULTORES
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 01/07/2005, Economia, p. 27

Lula não recebe manifestantes e governo não cede a novas reivindicações

BRASÍLIA. Terminaram em impasse as negociações entre o governo e os representantes dos produtores rurais que por dois dias comandaram um "tratoraço" em Brasília. Os agricultores continuaram ontem a sofrer as conseqüências da radicalização - na quarta-feira eles invadiram o gramado do Congresso e bloquearem o trânsito. Sem chance de terem uma nova conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os manifestantes foram deixando a cidade à espera de novas concessões da área econômica, que dificilmente serão feitas.

- Recrimino severamente as pessoas que saíram do script formulado em comum acordo com as lideranças do setor. Pedimos desculpas à população brasileira - disse o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antonio Ernesto de Salvo.

Com a decisão de Lula de não mais receber os ruralistas, foi marcada uma reunião entre os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Antonio Palocci (Fazenda), juntamente com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Sem acordo entre os ministérios da Agricultura e da Fazenda, os ruralistas só foram recebidos por Rodrigues no fim da tarde.

Até ontem à tarde, alguns pontos pendentes haviam avançado. Só que, à medida que o governo cedia, os agricultores exigiam mais. Pediram mais R$3 bilhões para financiar dívidas, além dos R$4 bilhões já anunciados.

Fazenda não quer renegociar dívidas mais antigas

Além disso, se, há dois dias, a área econômica só concordava em pagar pela saca de 50 quilos de arroz R$22, ontem Palocci admitia aumentar o valor para R$23. Mas os agricultores querem R$24. A equipe econômica descartou a renegociação de dívidas anteriores a dezembro de 2004, que somam cerca de R$12 bilhões. Assim, entraram na pauta apenas os débitos que vencem este ano e as prestações bancárias contraídas pelos produtores na época do plantio da safra.