Título: CANDIDATOS AO PRÊMIO ÓLEO DE PEROBA
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Fonte: O Globo, 03/07/2005, O País, p. 3

Escândalos mudam mas justificativas de acusados permanecem estapafúrdias

BRASÍLIA. No anos 90 os brasileiros foram apresentados a um reality show da corrupção, com as primeiras CPIs ¿ do PC e dos anões do Orçamento ¿ transmitidas por TVs e rádios. Passavam do riso à indignação com o desfile de políticos pilhados no saque ao dinheiro público e suas versões para legitimar a dinheirama que aparecia em suas contas bancárias. Álibis que, em geral, não resistem a uma quebra de sigilo ou a revelações, ora um motorista, ora uma secretária, uma ex-mulher magoada, um genro maltratado.

Foi o que aconteceu na Operação Uruguai, versão montada com doleiros e empresários para tentar desvincular gastos do ex-presidente Collor do esquema PC. Collor e uma dezena de deputados foram cassados, mas os escândalos continuam surgindo entre políticos, juízes e autoridades. As versões para tentar esconder as fraudes continuam criativas.

Vão de compra de bois e cavalos de raça, como alegou o publicitário Marcos Valério de Souza para justificar R$21 milhões de saques em dinheiro no período de dois anos, a heranças, empréstimos ou mesmo loteria. Em menos de dois dias, Marcos Valério mudou de versão. Agora diz que os saques foram feitos para pagar a fornecedores, comprar ativos e distribuir lucro entre os sócios.

¿ Falar ao público é uma coisa, provar o álibi na Justiça é diferente. Não se saca a descoberto, porque depois o tombo é maior ¿ diz o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio de Mello.

Alguns casos viram motivo de piada. É o caso do ranário de Jader Barbalho (PMDB-PA), ex-senador e hoje deputado. Acusado de comandar um esquema que provocou rombo de R$1 milhão na Sudam, Jader alegou que cerca de R$500 mil tinham sido usados para a construção de um ranário em nome de sua mulher, Márcia. O processo foi arquivado, mas Jader renunciou a seu mandato de senador e se elegeu deputado.

Mas a versão mais extravagante foi mesmo a do falecido deputado João Alves Filho, anão da CPI do Orçamento. Sua média mensal de movimentação bancária era 300 vezes maior do que o salário de deputado. Para justificar o patrimônio, disse que ganhou 200 vezes na loteria.

¿ Deus me ajudou ¿ dizia.

Um dos protagonistas do desvio de U$169 milhões das obras do TRT de São Paulo, o ex-senador Luiz Estevão usou o álibi do empréstimo para justificar depósitos feitos por empreiteiros. Não colou. Ele foi cassado e virou cartola do Brasiliense.

Seu companheiro no escândalo, o juiz Nicolau dos Santos Neto, não teve que pensar muito. Para justificar a compra de jóias, Mercedes e Porsches, um apartamento de U$1 milhão em Miami, contas na Suíça e mansões em São Paulo e Guarujá, disse que seu patrimônio tinha origem na herança do pai.

¿ Quando estudei direito, já tinha um Lincoln Continental, coisa rara para a década de 50 ¿ disse em seu depoimento à CPI do Judiciário.

Mas é o ex-prefeito Paulo Maluf um dos mais fortes candidatos ao prêmio Óleo de Peroba, uma brincadeira inventada pelo vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL). Maluf nega até a morte que sejam suas as assinaturas nas contas milionárias de sua propriedade encontradas em paraísos fiscais.

Protagonista de escândalo mais recente, o ex-diretor dos Correios Mauricio Marinho disse que os R$3 mil que aparece embolsando em uma gravação são parte do pagamento de uma consultoria que faria para uma empresa que nem existe.

Também flagrado em uma gravação tentando extorquir dinheiro do bicheiro Carlos Cachoeira, Waldomiro Diniz, ex-assessor do ex-ministro José Dirceu, tentou negar as imagens, mas confessou: levou dinheiro do jogo do bicho para a campanha eleitoral do PT. Para si, ele pediu ao bicheiro 1% do valor dos contratos acertados na administração de jogos lotéricos no Rio, mas disse que fez o pedido para ajudar um assessor que passava por dificuldades financeiras.

¿ Para mim, hors-concours é José Dirceu, que morou com Waldomiro e depois disse que não o conhecia. Maluf também é muito bom, olha olho no olho e nega ¿ ironiza Nonô.