Título: O avalista do PT
Autor:
Fonte: O Globo, 03/07/2005, O País, p. 3

Valério foi devedor solidário e pagou parcela de R$350 mil de um empréstimo para o partido SÃO PAULO Opublicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o ¿homem da mala¿ do esquema de corrupção investigado pela CPI dos Correios, foi avalista de um empréstimo de R$2,4 milhões feito pelo PT junto ao BMG, banco com sede em Belo Horizonte, onde ficam também as sedes das agências de Valério, SMP&B e DNA. O contrato do empréstimo foi fechado, segundo documentos obtidos pela revista ¿Veja¿, em 17 de fevereiro de 2003, no início do governo Lula. Uma das prestações de R$350 mil do empréstimo, ainda não quitado, foi paga pelo publicitário em julho do ano passado. Além de Marcos Valério, devedor solidário do empréstimo, os outros dois avalistas foram o presidente nacional do partido, José Genoino, e o tesoureiro, Delúbio Soares. Os documentos do empréstimo estão nos arquivos do Banco Central e foram obtidos pela revista. Segundo a reportagem, nas negociações para obter o empréstimo, Valério intermediou uma visita entre a direção do banco e o então chefe da Casa Civil José Dirceu. Até sexta-feira, antes de a revista circular, Genoino negava o empréstimo e dizia que o PT só tinha com Valério dívidas de campanha. Ontem, ao tomar conhecimento da reportagem, Genoino confirmou o negócio, dizendo que ¿era um empréstimo comercial normal¿, prometendo que ¿mais tarde¿ o tesoureiro Delúbio Soares explicaria o financiamento e apresentaria todos os documentos do negócio. Depois, em outra entrevista, Genoino disse que foi informado de forma equivocada pela Secretaria de Finanças do PT, departamento controlado por Delúbio. ¿ Dei uma informação equivocada para a ¿Veja¿ porque recebi uma informação da Secretaria de Finanças de que o Marcos Valério não era avalista de nenhum empréstimo do PT. O empréstimo foi feito por orientação de Delúbio Soares e ele vai falar sobre esse assunto por meio de nota e documentos ¿ disse Genoino, durante o Foro de São Paulo, conferência que reúne representantes de partidos de esquerda da América Latina, realizado na capital paulistana. Contratos com Correios e BB As empresas de Marcos Valério ajudaram a produzir as campanhas eleitorais do PT em 2002 e em 2004 e depois obtiveram contratos milionários de contas dos Correios. Só neste ano, a SMP&B já recebeu dos Correios R$15 milhões. A empresa tem também as contas publicitárias do Ministério dos Esportes no valor de R$650 mil. Tem também um contrato com a Câmara dos Deputados, assinado na gestão do amigo e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), do qual já recebeu R$10,7 milhões. Outra agência de sua propriedade, a DNA, possui três contratos com o governo, entre os quais com o Banco do Brasil, que rendeu à agência no ano passado R$105 milhões. Tem o contrato de publicidade também da Eletronorte, no valor de R$12,5 milhões. E tem ainda contrato com o Ministério do Trabalho do qual recebeu só este ano R$506 mil. O empréstimo de R$2,4 milhões do PT junto ao BMG foi pedido pelo tesoureiro Delúbio Soares no começo de 2003, logo depois da posse de Lula, à titulo de pagar dívidas de campanha que o partido teve com a eleição de Lula no final de 2002. Também a revista ¿Época¿ traz em sua edição deste fim de semana uma reportagem sobre a corrupção no governo. Com o título ¿Conexão perigosa¿, a reportagem trata do empresário Antonio Augusto Leite Filho, dono da empresa Beta Transportes Aéreos, que chegou a ser sócio da Skymaster, numa licitação no valor de R$48,7 milhões com os Correios para o transporte aéreo de malotes noturnos da empresa. A Beta doou R$800 mil, em outubro de 2002, para a campanha que elegeu o presidente Lula, e que teve Delúbio como o tesoureiro e caixa de campanha.