Título: O PT-governo e o PT-aparelho
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 03/07/2005, O Globo, p. 2

A reforma ministerial que o presidente Lula anuncia amanhã ou depois significará também uma despetização de seu governo que não se traduzirá apenas na redução do número de pastas ocupadas pelo partido. Virá também pela distinção de conduta entre os que estão preocupados em salvar o governo e os que se guiam apenas pelo destino da estrela vermelha. Neste sentido, estão em ação dois PTs. O PT-governo não é composto só pelos que ocupam cargos no Executivo mas pelos que, independentemente do endereço político, entendem a salvação do governo como caminho único para a salvação do próprio partido. E que uma e outra dependem da recuperação da confiança, que só virá com o esclarecimento de todas as denúncias, seguida das punições necessárias, por mais fundos e dolorosos que sejam os cortes. E isso passa, em resumo, pela declaração do presidente da CPI, senador Delcídio Amaral, de que não há condições para se abafar ou controlar nada. Só assim, enfrentando a purgação, o governo chegará a seu final, com ou sem reeleição, e o próprio PT terá condições de recuperar o grande capital que já perdeu. O PT-aparelho é o que se está seguindo a tática da contra-ofensiva. O que disputa com a oposição qual CPI investigará o mensalão, querendo recuar também para a compra de votos na reeleição. O que tenta intimidar os tucanos com outras ameaças de investigação, que resiste ao afastamento de Delúbio e Silvio Pereira da direção partidária e insiste no discurso do golpismo de direita, como fez Delúbio na sexta-feira em Goiânia. Mas este já não pensa nada, viu-se que é mesmo um ser em frangalhos. Ele e outros desta linha reproduzem a retórica e a tática que emana de José Dirceu. Quando decide despetizar o governo Lula não está abandonando o partido, como já suspeita o grupo do aparelho. Está trilhando o único caminho que pode levar à sobrevivência de ambos. Na sexta-feira, ele recebeu pesquisa interna, já feita neste finalzinho de junho, com tudo na rua, mostrando que suas perdas foram mínimas diante do estrago brutal sofrido pelo partido. O governo, disse Lula em pelo menos uma conversa, não fará o jogo do aparelho, cuja autonomia causou tudo isso. O PT ainda lhe agradecerá. Tem matutado sobre uma proposta. A de chamar o Ministério Público e a Polícia Federal e pedir que deflagrem uma espécie de Operação Mãos Limpas, que não deixe literalmente pedra sobre pedra. Pedra de petistas ou de qualquer extração. Mas não, como sugeriu Fernando Henrique, anunciando que desistirá da reeleição em troca da governabilidade. Fazer isso agora seria admitir o fracasso completo de seu governo, assumir todas as culpas e preparar o enterro do PT. Pode até desistir, mas a seu juízo, não nestas condições.