Título: Quando a lesão fica crônica, vem a depressão
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 03/07/2005, Economia, p. 33

Afastamento definitivo abala o trabalhador. Especialista diz que as mulheres são o grupo de risco principal

Não há levantamento, mas a experiência de médicos do trabalho atesta: a depressão é o próximo passo dos doentes crônicos de LER (lesão por esforço repetitivo) e Dort (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho). Mário César Ferreira, doutor em ergonomia do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (Unb), explica que à medida que o trabalhador vai se sentindo incapacitado, excluído, começa a ter o que os psicólogos chamam de vivência depressiva:

¿ É a porta de entrada para a depressão. Um sentimento de tristeza, de desespero. Um conjunto de sintomas que aparecem de forma combinada.

Se a situação não se resolve, o que era apenas uma tristeza avança para depressão, síndrome do pânico, ansiedade. Isso acontece quando o trabalhador percebe que terá que reduzir a atividade ou se afastar definitivamente do trabalho:

¿ Aí a ficha cai. E as mulheres são o grupo de risco principal ¿ diz Ferreira.

Entre pacientes com LER da ABBR, 60% estão deprimidos

A experiência acadêmica de Ferreira encontra eco nos números da ABBR. Segundo a terapeuta ocupacional Mônica Alves da Rocha, cerca de 60% dos seus 80 pacientes sofrem com a depressão:

¿ Está começando a surgir um tipo de doença pouco comum, conseqüência da depressão. É a fibromialgia. Uma dor generalizada pelo corpo. A pessoa mal consegue andar. Os braços ficam cheios de nós.

Ela diz que ao observar exames, percebe-se apenas alguma tendinite ou mal relacionado:

¿ Os distúrbios emocionais contribuem de forma determinante para isso.

Aos 38 anos, o bancário licenciado Carlos Alberto Antelo Fernandes não sai mais de casa sozinho. Tem tendinite nos ombros e cotovelos e seis hérnias de disco. A lista de remédios é interminável, para dor e a depressão que o atormenta:

¿ Era uma pessoa alegre, tinha amigos e agora vivo com dor, numa cadeia dentro de mim mesmo. Tornei-me agressivo, engordei. Só saio para ir ao médico e mesmo assim acompanhado. Freqüento consultórios de cardiologista, ortopedista, neurologista e psiquiatra.

Os distúrbios mentais são a segunda doença que mais afasta do trabalho, diz a pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva da UnB, Anadergh Barbosa:

¿ E é subnotificado como a LER/Dort. O trabalhador se vê sem condições de realizar tarefas básicas. Convive com o preconceito, o afastamento.

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