Título: `Homossexuais podem ser bons pais, é claro¿
Autor: Vivian Oswald
Fonte: O Globo, 03/07/2005, O Mundo, p. 38

BRUXELAS. Ao permitir a adoção de filhos, a lei espanhola põe o país à frente de Holanda e Bélgica. Neste momento, parlamentares belgas discutem a questão. Para Lieve Vandemeulebroecke, especialista do Centro para Estudos de Paternidade e Educação da Família da Universidade de Leuven, é preciso esperar.

Existe alguma diferença no relacionamento entre pais e filhos, quando se trata de casais homossexuais?

LIEVE VANDEMEULEBROECKE: Existem algumas pesquisas. Boa parte foi feita com mães lésbicas. Em muitos casos afirma-se não haver diferença no comportamento dos filhos. Mas temos que analisar a metodologia das pesquisas. Muitas consideram crianças criadas em famílias de lésbicas que nasceram de uma relação heterossexual, portanto, reconhecem a figura do pai. Em geral, as pesquisas também consideram um pequeno grupo de mães lésbicas com alto grau de instrução, boa situação financeira, brancas e com a mente muito aberta em relação à sua situação. Tudo isso pode influir nos resultados obtidos e, por isso, não se pode generalizá-los. É preciso pesquisar mais o assunto.

Mas os homossexuais são maus pais?

VANDEMEULEBROECKE: Não. Eles podem ser bons pais, é claro. Aliás, muitas crianças não são criadas pelos pais biológicos. Às vezes, são adotadas ou criadas por alguém próximo. Mas, algumas vezes, vemos que elas têm problemas por causa disso. Muitas têm dificuldades de enfrentar o fato de serem adotadas. Conviver com essa variável e dentro de uma família homossexual pode oferecer mais riscos. Mas aí também existe o caso de crianças pobres, que não têm com quem ficar. Talvez, para elas, não seja melhor serem criadas por pais homossexuais?

A senhora é contra a adoção de crianças por casais homossexuais?

VANDEMEULEBROECKE: Não sou contra. Mas acho que é preciso esperar mais. Deve-se estudar mais o assunto. Para o caso dos filhos biológicos de mães lésbicas, acho que já deveria haver a possibilidade de adoção. Não dar o direito legal à parceira sobre o filho pode ser prejudicial para a criança. Se a mãe morre, que tipo de proteção terá a criança? Isto já está sendo proposto por alguns partidos aqui na Bélgica.

O número de adoções na Bélgica pode aumentar se a lei permitir que os casais sejam os pais legais das crianças?

VANDEMEULEBROECKE: Não acho que haverá um aumento significativo. Na região de Flandres, na Bélgica, por exemplo, há 200 pedidos de adoção anualmente por casais heterossexuais. Acho que querer o direito de adoção é mais uma necessidade de reconhecimento. (Vivian Oswald)