Título: PREJUÍZO DO PT
Autor:
Fonte: O Globo, 05/07/2005, Opinião, p. 6

Se ainda havia algo intacto no tal patrimônio ético do PT, acaba de ser pulverizado pela descoberta do aval do publicitário Marcos Valério a um empréstimo bancário de R$2,4 milhões ao partido e do pagamento, também pelo empresário, de uma prestação de R$350 mil desse financiamento.

Para proteger esse patrimônio, o governo do PT não poderia ter destinado às agências do publicitário mineiro uma conta sequer de ministérios, estatais, o que fosse. Não foi o que aconteceu.

Estima-se em quase R$150 milhões o total de contratos fechados com as agências de Valério, a SMP&B e a DNA. Se forem considerados os negócios de prazos mais longos, a conta chegaria aos R$400 milhões, segundo a revista ¿Veja¿, onde foi revelada a história do aval e do gesto de confiança e amizade do publicitário com o partido, ao resgatar a prestação de R$350 mil.

Assim, tornou-se inevitável entender a operação como de mão dupla: em troca do apoio financeiro e do aval ao PT, Marcos Valério teve escancaradas as portas do milionário mundo das verbas publicitárias oficiais.

As suspeitas tendem a se converter em convicções quando se lembram os desmentidos do tesoureiro Delúbio Soares e do presidente do PT, José Genoino, ao serem perguntados sobre ligações mais próximas entre o partido e o publicitário.

Os fatos autorizam a entender que Valério pagou um pedágio para transitar com grande desenvoltura na Brasília dos novos donos do poder. E pior: parte do dinheiro pago às agências do publicitário pelos cofres públicos teria voltado em forma de mensalões, aumentando a veracidade das denúncias de Roberto Jefferson.

Por isso mesmo, mais essa história escandalosa ¿ que abala a posição de José Genoino e Delúbio Soares, cujas assinaturas estão no contrato do empréstimo garantido por Valério ¿ não pode ser tratada à margem das acusações do deputado petebista.

Nem desconectada das evidências de loteamento de cargos no Executivo e em estatais, também usados para drenar dinheiro público e canalizá-lo ao caixa dois de políticos e partidos. Como está registrado em gravações envolvendo os Correios e o IRB com o PTB e Roberto Jefferson.