Título: ESTATAIS VÃO TER COMANDOS TROCADOS
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 05/07/2005, O País, p. 8

Carlos Wilson, da Infraero, entregou carta de demissão a Lula na sexta-feira

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá mudar as direções das estatais utilizando o mesmo critério adotado para os ministros: afastar aqueles que serão candidatos nas eleições de 2006. A idéia do presidente é adotar nomes com perfis mais técnicos, até para mostrar reação diante das denúncias envolvendo estatais e as indicações políticas para seus cargos de comando. Lula já consultou os presidentes das principais estatais, como José Eduardo Dutra, da Petrobras, e Carlos Wilson, da Infraero. Este último entregou carta de demissão a Lula na última sexta-feira.

O presidente da Petrobras, candidato ao Senado por Sergipe, disse ao presidente que é um homem de partido e que fará o que for melhor para o governo e o PT. No caso de sua saída, o mais cotado para assumir o comando da estatal é o atual diretor financeiro, José Sérgio Gabrieli, também do PT. Gabrieli sofreu resistências quando assumiu o cargo de diretor financeiro, mas depois sua atuação foi aprovada pelo mercado, sendo considerado hoje um nome de perfil técnico.

O pernambucano Carlos Wilson avisou ao presidente Lula que é candidato a deputado federal em 2006 e, por isso, sairá da presidência da Infraero, se for cumprido o critério de afastamento dos futuros candidatos e o presidente desejar. Mas a escolha do novo presidente da Infraero será feita diretamente por Lula, sem pré-indicações.

O presidente da Itaipu Binacional, Jorge Samek, ficará no cargo porque não vai disputar eleição, e já disse isso ao presidente. Outro consultado foi o presidente do Banco do Povo, Gerado Magela. Lula também terá que escolher um novo nome para dirigir a Eletrobrás, caso o atual presidente, Silas Rondeau, assuma o Ministério das Minas e Energia, na cota do PMDB do senador José Sarney (PMDB-AP).

Reforma ministerial será feita por etapas

Dentro da Eletrobrás, o PMDB já tem o diretor de Projetos Especiais, Aloísio Vasconcelos. Mas o nome preferido da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é o diretor de Engenharia, Valter Luiz de Souza Cardeal.

Devido ao agravamento da crise, Lula está sendo aconselhado a fazer o anúncio da reforma ministerial por etapas: primeiro os ministros, que deverá ocorrer hoje, e depois de sua viagem à Escócia, entre quarta e quinta-feira, resolver a situação das estatais.

Lula começou a fazer essas consultas na semana passada. Mas o presidente está sendo aconselhado a ter muito cuidado com mudanças nessas empresas, porque qualquer alteração brusca poderá causar preocupação no mercado e prejuízos às próprias empresas e à economia. Por isso, uma das questões mais complicadas é a da Petrobras.

¿ O presidente só fará mudanças que dêem mais credibilidade ao governo e não apenas para ratificar uma arrumação política ¿ disse um auxiliar do presidente.

Outro interlocutor de Lula confirmou que ele primeiro resolveria a questão dos ministros e, depois, das estatais. O presidente viaja amanhã para a Escócia, onde participará de reunião do G-8. No dia 12, Lula tem marcada uma viagem para a França, onde deverá ficar até dia 15, participando das comemorações pelo aniversário da queda da Bastilha.

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