Título: SAQUES EM DIAS DE VOTAÇÕES-CHAVE
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 05/07/2005, O País, p. 8

Vitórias do governo coincidem com retiradas de R$3 milhões de Valério BRASÍLIA. Os saques nas contas da SMP&B Comunicação e da DNA Propaganda ¿ empresas de Marcos Valério de Souza, acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos operadores do mensalão ¿ não coincidem apenas com as datas de suas viagens a Brasília. Levantamento feito pela agência Reuters identificou que cerca de R$3 milhões teriam sido sacados nas mesmas datas ou em dias próximos de votações importantes para o governo, entre 2003 e 2004, como por exemplo a aprovação da medida provisória que garantiu status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A chamada MP do Meirelles foi aprovada no dia 30 de novembro do ano passado. Na véspera e no dia da votação, foram sacados da conta da SMP&B, de acordo com um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), R$480 mil. As bancadas do PP e do PL, os dois partidos identificados por Jefferson como beneficiários do mensalão, deram uma boa contribuição para a aprovação da matéria. A fidelidade da bancada do PL chegou a 97,5% e a do PP ficou em 90,7%. Outra coincidência foi registrada na votação da medida provisória que fixou o salário mínimo em R$260 no ano passado. Dois dias depois de ser aprovada na Câmara, a DNA sacou R$500 mil do Banco Rural. Como a matéria foi modificada pelo Senado, que fixou um mínimo de R$275, maior do que o governo desejava, a matéria foi submetida a nova votação na Câmara no dia 23 de junho, quando os deputados restabeleceram o valor inicial de R$260. Dois dias antes da nova votação, foram sacados mais R$200 mil. Mais uma vez o PL demonstrou fidelidade ao governo, com o apoio de 95,24% da bancada. O PP contribuiu com 71,11% dos votos. ¿ Isso é muito mais que um indício. Eu quero agora é ver alguém desmentir essa vinculação clara entre saque e voto em matérias de interesse do governo. Gastou-se R$700 mil na votação da medida provisória do salário mínimo. A palavra agora está com a CPI ¿ disparou o líder do PFL, senador Agripino Maia (RN), da tribuna. Coincidências de saques em votações das reformas As primeiras coincidências entre os saques nas contas das empresas de Marcos Valério e votações de interesse do governo no Congresso foram registradas em 2003 na votação das reformas da Previdência e tributária. Um dia depois da aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara, saíram da conta da SMP&B R$200 mil. Nos dois dias que antecederam o segundo turno, foram sacados mais R$200 mil. Os saques foram ainda maiores no período em que a reforma tributária foi aprovada na Câmara, somando R$1,2 milhão entre os dias 23 e 26 de setembro de 2003. O segundo turno da reforma foi aprovado no dia 24 de setembro. A matéria foi modificada no Senado em 17 de dezembro do mesmo ano. Neste mesmo dia, a SMP&B sacou R$350 mil e dois dias depois mais R$120 mil.