Título: Lula: sem brincar com a economia
Autor:
Fonte: O Globo, 22/10/2004, Economia, p. 25

Um dia após a alta de 0,5 ponto percentual na Taxa Selic, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem estar certo de que a política econômica vai colocar o país em um novo rumo de desenvolvimento. Lula afirmou que não quer ¿brincar com a economia¿, deixando claro ¿ embora sem fazer qualquer menção ao aumento dos juros ¿ que as medidas econômicas vão continuar a ignorar os calendários eleitorais.

Lula lembrou sua iniciativa de elevar o superávit primário de 4,25% para 4,5% do PIB antes do primeiro turno das eleições municipais:

¿ Aprendi com dona Marisa, minha mulher, que, se há dinheiro a mais, devemos antecipar o pagamento das prestações devidas, para não ficarmos sufocados no mês seguinte. Por isso não tive problema algum em elevar o superávit para resolver o problema de um dinheiro que não era esperado e não tinha destinação.

Sem mencionar o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula disse que em 1998, ano de eleição, o governo adiou mudança na política cambial. Em 2002, represou as taxas de juros por causa das eleições presidenciais, forçando o Banco Central a corrigi-las mais fortemente nos primeiros meses de 2003.

País criou 1,6 milhão de empregos formais de janeiro a setembro

Diante de uma platéia de 500 pessoas na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) ¿ onde participou da solenidade de posse do empresário Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira em seu quarto mandato ¿ Lula anunciou novos números de empregos formais. Foram criados no país 1.666.188 postos de trabalho de janeiro a setembro, sem considerar empregadas domésticas e funcionários públicos. A grande maioria das vagas foi no interior, acrescentou.

O presidente destacou ainda o avanço do comércio exterior, lembrando que o setor hoje é mais dinâmico, com a pulverização das vendas para mercados não tradicionais. Para o Oriente Médio, as vendas cresceram 50% e para a América Latina, 73% durante seu governo, disse ele, acrescentando que guardou um champanhe para ser aberto no dia em que o país atingir US$ 100 bilhões em exportações.

No discurso de improviso, o presidente voltou a defender a aprovação das Parcerias Público-Privadas (PPPs) para eliminar os gargalos na infra-estrutura. A PPP, disse, é necessária para garantir um ciclo duradouro de crescimento e não uma expansão efêmera, ¿um vôo de galinha¿, segundo o próprio presidente. O único comentário de Lula sobre os juros foi sobre as taxas elevadas cobradas no varejo. O presidente lembrou que o governo, para reduzi-las, fez acordos com bancos para permitir o desconto dos empréstimos nas folhas de pagamento para empregados e aposentados, reduzindo riscos de inadimplência.