Título: BUSH NEGA ACORDO AMBIENTAL NO G-8
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Fonte: O Globo, 05/07/2005, O Mundo, p. 24 e 25

Presidente dos EUA não concorda com a diminuição de emissão de gases poluentes, proposta por aliado Blair

LONDRES. Se o premier britânico, Tony Blair, tinha esperança de angariar o apoio de seu parceiro na guerra do Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, para suas propostas na reunião do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia), ela acabou ontem. Bush deixou claro que as intenções do grupo de diminuir a emissão de gases que provocam o efeito estufa não contará com a adesão dos EUA.

A afirmação de Bush, divulgada apenas dois dias antes do início da reunião, que será realizada a partir de amanhã em Edimburgo, na Escócia, foi um banho de água fria em quem achava que o encontro poderia significar um corte na produção de poluentes, discussão que, ao lado da África, é considerada a principal da reunião.

¿ Não vejo nossa relação como uma troca. Blair tomou decisões que pensava ser as melhores para manter a paz e vencer a guerra contra o terror ¿ disse Bush, numa entrevista exibida ontem pelo canal britânico ITV1.

Todos os países que integram o G-8, à exceção dos EUA, assinaram o Protocolo de Kioto, que prevê uma redução da emissão de gases poluentes. O presidente da França, Jacques Chirac, é quem mais pressiona os EUA a mudarem sua postura, aliando-se a Blair. Mas Bush foi taxativo.

¿ Se (a proposta de documento final) parecer com Kioto, a resposta é não. O tratado de Kioto destruiria nossa economia ¿ disse Bush.

O outro ponto principal de discussões da reunião ¿ a miséria africana ¿ também está provocando debates acalorados.

Chirac resiste a derrubar subsídios agrícolas

Os líderes devem aprovar a duplicação da ajuda econômica à África, que passaria a ser de 0,7% do PIB de cada um dos países ricos até 2015 (à exceção dos EUA, que duplicariam a ajuda mas partem de uma base menor). Quanto ao perdão da dívida africana, um passo já foi dado com a eliminação da dívida dos 18 países mais pobres do mundo, vários deles africanos, mês passado.

Porém, um terceiro item caiu num impasse. Blair pressiona a França a abandonar subsídios agrícolas que prejudicam o comércio internacional da África. Ontem, Bush afirmou que os EUA estão dispostos a cortar seus subsídios caso a União Européia faça o mesmo. Mas, segundo fontes envolvidas nas negociações, Chirac não estaria cedendo.

Nunca uma reunião do G-8 recebeu tanta atenção. Sábado, cem artistas fizeram shows para pressionar o G-8 a perdoar a dívida da África, aumentar a ajuda econômica e adotar regras mais justas de comércio, com uma audiência estimada de dois bilhões de pessoas em todo o mundo.

Ontem, militantes anarquistas mascarados se infiltraram numa manifestação pacífica em Edimburgo e entraram em choque com a polícia. O confronto deixou 21 feridos.