Título: ENQUANTO ISSO, NO TORTO, DANÇA E ORAÇÕES
Autor: Demétrio Wever e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 04/07/2005, O País, p. 5

Apesar das brincadeiras, presidente não esconde o abatimento diante das denúncias contra o PT BRASÍLIA. Nem a mais grave denúncia já feita contra o PT impediu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Marisa Letícia de realizarem uma festa de São João, no sábado à noite, na Granja do Torto. No mesmo dia em que a revista ¿Veja¿ revelou que o publicitário Marcos Valério foi avalista e pagou uma das parcelas de empréstimo do PT, 17 ministros, o vice-presidente José Alencar, amigos e assessores foram à Granja beber quentão, dançar a quadrilha e rezar pelo sucesso do governo. A mais animada era a anfitriã, mas seu entusiasmo não conseguiu afastar o ar de tristeza e abatimento de Lula, segundo relato de vários convidados. Assessores do presidente tentaram demovê-lo da idéia de fazer a festa, mas prevaleceu a vontade de Marisa e a tradição familiar de mais de 20 anos de comemorações juninas ¿ a de anteontem, julina. Um ministro contou que o presidente, apesar do esforço para fazer brincadeiras, era a expressão de um homem triste. A nova denúncia contra o PT não foi evitada nas rodas de bate-papo. Lula e Marisa dançaram a quadrilha, passando por baixo dos braços de outros pares. Quando o presidente parou de dançar, Marisa continuou formando pares com os filhos. De violão em punho, o secretário nacional da Pesca, José Fritsch, embalava a festa, que à 0h30m já estava esvaziada. Durante cinco minutos, uma queima de fogos iluminou o céu. Mais cedo, os convidados participaram de uma romaria, rezando o terço e repetindo preces e mensagens positivas, do tipo: ¿Que o presidente consiga fazer um bom governo, que tenha força e coragem de seguir adiante¿. O padre Tófoli, irmão do consultor jurídico da Presidência, José Antonio Tófoli, fez uma pequena oração, falando do momento difícil por qual passa o país. Foram feitos pedidos também de mais justiça, igualdade social e até fidelidade nos casamentos. ¿ Foi uma festa de caráter aconchegante, com tom familiar ¿ disse o ministro do Controle e da Transparência, Waldir Pires, que chegou por volta de 20h20m, antes do ministro Antônio Palocci, último a comparecer. O Arraiá do Torto começou às 18h, com direito a fogueira e a presença, no início, apenas de familiares, amigos de São Bernardo do Campo e alguns assessores. O primeiro ministro a chegar foi Olívio Dutra (Cidades), um dos cotados para deixar o cargo na reforma ministerial. Olívio seguiu à risca a recomendação do convite e foi vestido a caráter. Alencar ficou menos de uma hora e meia e foi o primeiro a ir embora, por voltas das 20h30m, sem dar declarações. Segundo sua assessoria, ele saiu cedo porque tinha viagem marcada para Montes Claros (MG). A maioria dos ministros optou por roupas discretas. O da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, levou os quatro filhos e vestia uma camisa xadrez. Também foram à Granja Aldo Rebelo (Coordenação Política), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Celso Amorim (Relações Exteriores), Agnelo Queiroz (Esporte), Álvaro Ribeiro (Advocacia Geral da União), Walfrido dos Mares Guia (Turismo), Jacques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), Ricardo Berzoini (Trabalho) e Nilcéa Freire (Secretaria Especial de Políticas para Mulheres).