Título: POUPANÇA ACUMULA NO PRIMEIRO SEMESTRE PERDAS DE R$6,5 BILHÕES
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 04/07/2005, Economia, p. 16

Baixo rendimento em relação a outras aplicações é principal causa de saques

A caderneta de poupança está encerrando o primeiro semestre do ano com forte perda de recursos. Segundo dados do Banco Central (BC), de janeiro a junho (até o dia 27), os saques do investimento superaram os depósitos em R$6,538 bilhões. Para especialistas, a captação líquida (depósitos menos retiradas) negativa deve-se ao ciclo de alta dos juros básicos da economia (Taxa Selic), iniciado pelo BC em setembro de 2004 e encerrado em junho. Com a taxa em 19,75% ao ano, afirmam, a diferença entre o ganho da poupança e das demais aplicações atreladas aos juros torna-se cada vez maior e leva à migração para aplicações mais rentáveis.

A derrapada da poupança na corrida com outros investimentos se torna mais visível quando compara-se a rentabilidade acumulada no ano. No primeiro semestre, a poupança rendeu 4,38%, superada pelos fundos de curto prazo (5,89%), renda fixa (7,02%) e DI (7,52%), de acordo com cálculos do site Fortuna, consultoria que monitora a indústria de fundos. Com a desaceleração dos índices de preços nos últimos meses, a caderneta pelo menos supera a inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), que registra variação de 1,75% no ano.

¿ Esta fuga dos investidores é uma resposta à ascensão da Selic e ao ganho maior das outras aplicações frente à poupança ¿ diz Luiz Carlos Ewald, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio e autor do livro ¿Sobrou dinheiro! Lições de economia doméstica¿.

Investidores preferem diversificar aplicações

Mesmo considerando o Imposto de Renda (IR) de 22,5% cobrado em aplicações de até seis meses, os fundos rendem mais que a caderneta (que é isenta de IR), lembra o economista Marcelo D¿Agosto, sócio do Fortuna.

O comerciante Armando Elói da Silva, que mantém na poupança cerca de R$14 mil, está entre os investidores que já decidiram diversificar sua carteira de aplicações.

¿ Até agora, minha opção pela poupança devia-se ao fato de eu poder dispor do dinheiro a qualquer hora. Mas outras aplicações estão superando com folga seu rendimento e vou colocar parte em investimentos mais rentáveis, como DI ou renda fixa ¿ explica ele.

Elói da Silva segue um comportamento padrão entre investidores, segundo Ewald: à medida que dispõem de mais recursos, saem da poupança para garantir mais rendimento.

Já a percussionista Caroline Sant¿Anna Ribeiro, de 19 anos, tem feito saques constantes na sua poupança este ano. Como o rendimento é baixo, ela preferiu usar o dinheiro em cursos e outras despesas, fazendo o saldo cair de R$400 para R$30:

¿ Tenho preferido usar o dinheiro da poupança para custear diversas despesas. E sem arrependimentos, já que o rendimento é pequeno.

A debandada, contudo, parece ainda não ter batido à porta da Caixa Econômica Federal. Líder do mercado, com 31% de participação na captação da poupança, a instituição obteve R$50 bilhões em depósitos em junho, uma expansão de 8,2% em relação a junho de 2004 e de 17,3% sobre junho de 2003.

¿ Vamos manter o crescimento ¿ afirma o vice-presidente de Negócio Bancários, Fábio Lenza.

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