Título: LEVY: RIGIDEZ NOS GASTOS DIFICULTA INVESTIMENTOS
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 04/07/2005, Economia, p. 17

Secretário do Tesouro diz que excesso de vinculação das receitas da União prejudica o setor de infra-estrutura BRASÍLIA. Mesmo sem defender abertamente a proposta do deputado Delfim Netto (PP-SP) de aumentar a desvinculação de receitas da União de 20% para 40%, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, afirmou, em entrevista ao GLOBO, que a rigidez dos gastos públicos é um dos fatores que dificultam os investimentos em infra-estrutura no país: ¿ A rigidez do gasto, às vezes, não incentiva a avaliação das prioridades. Ela até dificulta. Inclusive, às vezes, a prioridade muda um pouquinho e, se o gasto é muito rígido, é difícil se ajustar a novos desafios. Para Levy, é preciso melhorar a qualidade dos gastos e não adianta discutir qual é o déficit da infra-estrutura, sem observar as regras fiscais de forma ampla. Ele informou que, por ano, o Brasil gasta com educação cerca de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas produzidas no país), marca observada em poucos países. E reivindicou uma ¿visão coerente¿ no debate sobre os investimentos em infra-estrutura. O aumento da desvinculação (quando a arrecadação não tem destino previamente definido) de recursos da União é parte da discussão da equipe econômica de zerar o déficit nominal do Brasil nos próximos anos. O déficit nominal zero é atingido quando as receitas se equivalem às despesas mais gastos com juros da dívida pública. Queda da inflação elevou compra de títulos prefixados Segundo Delfim, se o limite de desvinculação passar de 20% para 40% o governo terá mais liberdade para administrar seus gastos. Com isso, poderá chegar ao déficit nominal zero mais rapidamente. Levy evitou falar sobre a proposta, mas amanhã ela será tema de um jantar, organizado pelo deputado, com empresários e políticos e a presença dos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo. O governo quer o apoio de empresas e bancos para não assumir sozinho o custo político da idéia. Levy disse ainda que a redução dos índices de inflação ao longo de junho teve reflexos positivos na demanda dos investidores por títulos prefixados (LTNs). Segundo ele, na última quinta-feira, o governo vendeu num leilão R$9 bilhões em LTNs. Em média, o valor oscila entre R$4 bilhões e R$5 bilhões. Como a trégua da inflação traz a perspectiva de queda nos juros, os investidores trocam os papéis pós-fixados, atrelados à taxa Selic, pelas LTNs, cuja remuneração está garantida na hora da compra. ¿ Isso (a demanda por prefixados) reflete o bom resultado da inflação. Com os índices diminuindo, o apetite dos investidores aumentou bastante ¿ afirmou Levy. O aumento nas vendas de títulos prefixados também ajuda o governo a melhorar o perfil da dívida. Como esses papéis têm remuneração previamente acertada, os resgates tornam-se mais previsíveis. Levy acha que a crise política não tem prejudicado o interesse por títulos públicos. Segundo ele, a política econômica continua forte e garante a confiança no país: ¿ Os episódios que têm sido divulgados, por enquanto, não têm afetado a demanda dos investidores por papéis do governo. Apesar de o Banco Central, no Relatório de Inflação divulgado na semana passada, ter revisto a previsão de crescimento do PIB para 3,4% este ano, o secretário ainda acredita que a economia pode avançar 4%. Levy admitiu que a economia sofreu uma acomodação no primeiro semestre, mas disse que será preciso verificar o dinamismo da atividade a partir de julho.