Título: O PT desnudo e a crise no auge
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 04/07/2005, O Globo, p. 2

A direção nacional do PT foi politicamente aniquilada pela revelação da revista ¿Veja¿ sobre o empréstimo bancário avalizado pelo publicitário Marcos Valério. O PMDB, que Roberto Jefferson deixou fora do mensalão, e com o qual o presidente Lula busca nova coalizão de governo, foi atingido por denúncia da ex-secretária Fernanda Karina contra seu líder José Borba. Em poucas horas, o quadro escuro ficou mais negro e a crise mais ameaçadora.

A primeira conseqüência foi o adiamento do anúncio da reforma ministerial que o presidente não consegue fechar. Desde sábado, sob o impacto da revelação de ¿Veja¿, que dizem ter sido fortíssimo, Lula passou a concentrar-se na necessidade de garantir o afastamento dos dirigentes partidários. O deslocamento eventual de auxiliares seus para o comando do PT, tais como o assessor Marco Aurélio Garcia e o ministro Luiz Dulci, afeta o desenho da reforma. A denúncia contra Borba acionou o alerta do Planalto em relação aos nomes indicados pelo PMDB, depois da decepcionante escolha de Romero Jucá, alvejado por denúncias desde sua nomeação em fevereiro passado.

O tesoureiro Delúbio Soares, ao contrário do secretário-geral Sílvio Pereira, não antecipou sua saída ontem, insistindo no afastamento coletivo como se isto o isentasse. Apesar dos muitos clamores pelo afastamento de toda a direção, havia um esforço, verbalizado até por um ministro da esquerda partidária como Tarso Genro, no sentido de preservar José Genoino na presidência. Pelo menos provisoriamente, até que o diretório nacional, no sábado, indique nova executiva para conduzir o partido até a eleição de setembro. Insinuou-se muito que seria injusta decapitação de Genoino para garantir o afastamento de Delúbio, que o teria enganado com suas traficâncias. Como se diz o mesmo do presidente em relação à atuação de Dirceu, é de se estranhar tanta alienação de superiores que delegaram tanto poder aos auxiliares. Genoino enredou-se ao explicar o contrato que assinou, para no fim dizer que o assinou sem ler, a pedido de Delúbio. Perdeu, com tal confissão de inépcia, as condições de ficar no cargo.

O próprio Lula, mesmo exigindo a saída de Delúbio, Sílvio e Marcelo Sereno, teria feito a defesa pessoal de Genoino, embora reconhecendo que ele também perdeu as condições políticas para continuar no cargo. Lula esperou por duas semanas que eles tomassem a iniciativa de sair. Ou pelo menos que o partido abrisse uma sindicância interna para investigá-los. Tal como o PT fez com ele, em 1997, quando o caso Cepem, relacionando sua amizade com Roberto Teixeira aos contratos deste com prefeituras petistas, voltou ao noticiário. O presidente era Dirceu. A partir de sábado, Lula resolveu forçar as mudanças no partido.