Título: Cesar: `mar de lama¿ cerca o Guanabara
Autor: Maiá Menezes, enviada especial, e Aloysio Balbi
Fonte: O Globo, 25/10/2004, O país, p. 3

Vestido com seu casaco Lacoste sob o sol escaldante, o prefeito Cesar Maia, em dia de cabo eleitoral, pisou em solo campista para alvejar o quanto pôde o presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho. Cesar, que chegou a passar em carreata com o candidato do PDT à prefeitura da cidade, Carlos Alberto Campista, em frente à casa de Garotinho, afirmou que um ¿mar de lama¿ tomou conta da administração estadual. Cesar fez a afirmação ao comparar as gravações, cujo conteúdo foi publicado pela revista ¿Veja¿, em que o deputado federal André Luiz, do partido de Garotinho, tenta extorquir o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

¿ Não me lembro, na história da Guanabara, de fatos tão graves concentrados no tempo debaixo do mesmo governo. Estamos em um mar de lama que está circundando o Palácio Guanabara. Não é um mar de lama político, mas de corrupção. É um fato atrás do outro. Nunca se viu, dentro de um governo, uma concentração de corrupção tão grande. No mínimo, o governo não conseguiu coibir ¿ disse o prefeito do Rio.

Ao lado de Campista e do prefeito de Campos, Arnaldo Vianna (PDT), que assim como o candidato do PMDB, Geraldo Pudim, e a governadora Rosinha, são alvos de investigação da Justiça Eleitoral por uso da máquina administrativa em Campos, Cesar criticou o assistencialismo:

¿ O que interessa à política de clientela é manter a miséria. A população não quer esmola, mas dignidade. Todos os programas que não tenham como base educação ou emprego são programas de manutenção da miséria ¿ afirmou Cesar.

Cesar previu que a tentativa de trocar voto por programas sociais será malsucedida em Campos:

¿ O povo não troca seu voto por nada. O povo fluminense é consciente, politizado. Não é esse o jogo que vai mudar o voto de ninguém.

Em carreata ontem para a campanha de Geraldo Pudim, Garotinho não quis comentar a visita de Cesar ao município.

O prefeito, que reabilitou a jaqueta por causa da campanha ¿ ¿Quando precisa de voto, a jaqueta entra em campo¿ ¿ afirmou que Garotinho perdeu força política no estado. Neste segundo turno, Cesar já esteve em Sorocaba, São Paulo, Salvador, Niterói e em Campinas, para pedir votos a seus aliados.

¿ Garotinho no Rio desapareceu, já. Vai desaparecer agora nessa campanha na Região Metropolitana. No interior, é um processo um pouco mais lento, mas que certamente vai começar por Campos.

Simpatizantes do PMDB e do PDT saíram das ruas de Campos

A governadora Rosinha Matheus volta hoje a Campos. No sábado, ela participou das Olimpíadas do Colégio Bennet, com os filhos, no estádio Julio de La Mare, e ontem à noite participaria de comício com o candidato do PMDB em São João de Meriti.

Desde a tarde de sábado, quando foi divulgada a notícia da decisão da juíza Denise Appolinária suspendendo os programas sociais no município até as eleições, simpatizantes do PMDB e do PDT que se concentravam nas principais ruas e avenidas da cidade desde o inicio da campanha deixaram a área.

Os militantes com kits partidários ¿ bonés, camisas e bandeiras ¿ temiam ser repreendidos também pela Justiça Eleitoral. Mas assessorias dos dois partidos afirmaram que os militantes tiveram um fim de semana de folga, embora o tempo ensolarado fosse propício para panfletagem no último domingo antes das eleições.

Os advogados de Geraldo Pudim (PMDB) e Carlos Alberto Campista (PDT) tiveram um fim de semana de muito trabalho. Eles têm cinco dias, a contar de sábado, quando os dois candidatos foram notificados, para apresentar defesa, já que a juíza Denise Appolinária acatou integralmente o que o Ministério Público pediu, e, no pacote, além da suspensão dos programas sociais, está a cassação do registro dos dois candidatos por abuso de poder político e econômico.

Os advogados que vão apresentar defesa para tornar sem efeito o pedido da MP estão correndo contra o relógio. Passaram o domingo debruçados sobre calhamaços de papéis, montando a defesa. Os militantes, importantes peça de campanha, devem voltar hoje. Mas os partidos concluíram que no momento os advogados são mais importantes que os cabos eleitorais. Agora, os principais passos da campanha estão sendo dados nos gabinetes e não nas esquinas das ruas.