Título: Polícia Federal diz já ter provas suficientes para indiciar Valério
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 02/07/2005, O País, p. 4

Publicitário deverá responder por lavagem de dinheiro e sonegação de impostos

BRASÍLIA. A Polícia Federal considera que já tem elementos suficientes para indiciar o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza por lavagem de dinheiro e sonegação de impostos. O delegado Luiz Flávio Zampronha, responsável pelo inquérito, espera apenas o avanço das investigações para definir o melhor momento de indiciar Marcos Valério, que é acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de operar o suposto mensalão, pelo qual o PT pagaria R$30 mil mensais a deputados do PP e PL.

Um dos indícios contra Marcos Valério é o volume de saques em espécie (R$20,9 milhões) nas contas das agências SMP&B Comunicação e DNA Propaganda, das quais o publicitário é sócio. O dinheiro foi retirado do Banco Rural entre julho de 2003 e maio de 2005.

Administrador de factoring nega conhecer publicitário

Anteontem, em depoimento à PF em Belo Horizonte, Alexandre Vasconcelos, administrador de uma empresa de factoring e apontado como uma das pessoas que sacavam o dinheiro da SMP&B no Banco Rural, negou conhecer Marcos Valério. Vasconcelos disse que sacava os cheques da SMP&B a pedido de um empresário amigo, a quem entregaria o dinheiro sem receber pagamento por isso. A PF achou o procedimento estranho e interrogou ontem o empresário citado por Vasconcelos. Em seu depoimento, o empresário negou que tenha pedido a Vasconcelos que descontasse cheques da SMP&B no Banco Rural.

A empresa de factoring, que compra cheques e duplicatas de outras empresas que venderam a prazo, funciona em cima de uma loja de bicicletas administradas pela mãe de Alexandre Vasconcelos, em Belo Horizonte.

Nome de Jefferson está na lista de entrada do shopping

Em outra frente de investigação, a PF analisa a lista de entrada no prédio do Brasília Shopping, onde funciona uma agência do Banco Rural em Brasília. Além do próprio Marcos Valério e de assessores de deputados, a lista registra o nome do deputado Roberto Jefferson em 23 de julho de 2004 e 27 de abril de 2005, embora conste que seu destino não fosse o Banco Rural, mas uma clínica radiológica, a IMA Radiologia. Embora ocupem o mesmo andar, a clínica fica na sala 908, na Torre Sul, enquanto a agência bancária fica na sala 918, na Torre Norte. Cada torre tem uma entrada diferente.

A PF requisitou a hotéis de Brasília a confirmação de hospedagem de Marcos Valério e funcionários da SMP&B. Segundo anotações na agenda da ex-secretária da SMP&B Fernanda Karina Somaggio, algumas datas de viagens de Marcos Valério e seu advogado Rogério Tolentino a Brasília coincidem com saques em dinheiro no Banco Rural. Nem todas as anotações da agenda, porém, estão de acordo com as informações fornecidas pelos hotéis. A PF pedirá dados mais detalhados aos hotéis.

A polícia investiga ainda o fato de existirem duas agências SMP&B com registro no CNPJ. A PF apura se são duas empresas ou se apenas uma com dois registros. A PF estranha que Valério não tenha mencionado o fato em seu depoimento.

'Acusações de Jefferson são fantasiosas'

O publicitário Marcos Valério não quis dar entrevistas e apenas divulgou uma nota. A seguir, a íntegra: "O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza reafirma que são infundadas, fantasiosas e aparentemente produzidas por desatino, desespero e cinismo as acusações reiteradas pelo deputado federal Roberto Jefferson, que o apontam como arrecadador e distribuidor de recursos para parlamentares.

"Ao mesmo tempo, Valério repele a tentativa do deputado em compará-lo a Paulo Cesar Farias - apontado como tesoureiro de campanha eleitoral e como operador do que ficou conhecido como esquema Collor/PC.

"O empresário Marcos Valério reconhece plena autoridade no deputado Roberto Jefferson para falar sobre as atividades de PC Farias, tendo em vista a notória participação do parlamentar no que a imprensa denominou de 'tropa de choque' do ex-presidente Fernando Collor. Observa, no entanto, que jamais teve com o deputado Jefferson qualquer tipo de relação, em qualquer nível, que autorize o parlamentar a compará-lo com aquele de quem o deputado foi parceiro político e aplicado defensor".

Legenda da foto: O DELEGADO LUIZ Flávio Zampronha, responsável pelo inquérito