Título: Lição da crise
Autor:
Fonte: O Globo, 02/07/2005, Opinião, p. 6

Constituído por medidas já anunciadas anteriormente, o pacote anticorrupção lançado quinta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser entendido, por isso mesmo, apenas como um gesto político. Não deixa de ser positivo o presidente sinalizar com o distanciamento de esquemas espúrios montados em seu governo por companheiros e aliados.

Mas é o mínimo que se espera de Lula - ou de quem estivesse em seu lugar. O efetivo combate à corrupção, às suas causas, requer ações bem mais profundas e ousadas. É mesmo necessário atualizar a legislação para que o servidor público corrupto seja de fato punido como merece, e aperfeiçoar os instrumentos do Estado para aumentar o custo do benefício da propina, a ponto de desestimular o servidor desonesto.

As causas estruturais da corrupção precisam ser combatidas em outro campo. Além de uma reforma política séria, para fortalecer as legendas em detrimento do político traficante de mandatos e favores, é necessário eliminar os espaços pelos quais a corrupção e o fisiologismo tramitam dentro do Estado.

É impossível, por exemplo, que haja lisura no preenchimento de todos os 19 mil cargos de confiança de salários mais elevados existentes na União. É hora, portanto, de simplesmente eliminá-los, como já propôs o próprio presidente do PT, José Genoino.

A profissionalização absoluta da administração pública, incluindo as estatais, é meta a ser perseguida com obsessão. Nomeações nesse universo precisam ser feitas por mérito e não por influências político-partidárias. Uma lição importante que se tira da atual crise é a necessidade de se retomar a reforma do Estado.