Título: TRANSFERÊNCIA MILIONÁRIA SOB SUSPEITA
Autor: Maria Lima e Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 02/07/2005, O País, p. 8

Jefferson diz que Valério propôs dar R$100 milhões ao PTB por transação

BRASÍLIA. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou ontem de madrugada, já no fim de seu depoimento na CPI dos Correios, que o PT teria patrocinado uma tentativa do publicitário Marcos Valério de Souza de transferir uma aplicação milionária do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) em bancos da Suíça para um banco português que negociava investimentos no Brasil.

Segundo Jefferson, Marcos Valério lhe disse que se conseguisse convencer o então presidente do IRB, Lídio Duarte, a mandar para o Banco Espírito Santo, de Portugal, os US$600 milhões que estavam aplicados na Suíça, parte dos rendimentos, cerca de R$100 milhões, poderiam parar no caixa do PTB.

Ainda segundo Jefferson, diante da falta de acordo para o repasse das outras parcelas dos R$20 milhões do PT ao PTB na campanha eleitoral, ele cobrou o restante do dinheiro do presidente do PT, José Genoino, e do tesoureiro Delúbio Soares.

Em vez de resolver a pendência, os dois teriam pedido que ele recebesse Marcos Valério. Uma semana depois, Jefferson conversou com o publicitário na sede do PTB. Marcos Valério, segundo o deputado, fez a proposta de transferir os US$600 milhões para o banco português. Jefferson disse que ficou assustado e ligou para Genoino, que teria endossado a operação.

- Zé, esse cara é doido! Ele pôs um monte de números num papel. Genoino me respondeu: 'É isso mesmo, pode confiar no Valério, ele é firme, é a vera' - contou Jefferson.

Jefferson deu a entender que operação não vingou

O deputado Eduardo Paes perguntou se Marcos Valério tinha dito quanto renderia essa aplicação no banco português.

- Ele disse que daria uns R$100 milhões - respondeu Jefferson, dando a entender que a operação não prosseguiu.

O presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), considerou a denúncia grave e disse que a comissão precisa estudar o que pode ser feito, já que não está relacionada ao alvo de apuração da comissão.

- Devem perguntar sobre isso a Marcos Valério em seu depoimento - disse Delcídio.

Ainda ao falar do IRB e de suas relações com o dono da corretora Assurê, Henrique Brandão, Jefferson incluiu o presidente da Infraero, Carlos Wilson, como um dos políticos que mais foram beneficiados com doações do empresário para suas campanhas. O Ministério Público investiga supostas irregularidades em contratos de resseguro da Infraero com a Assurê. Jefferson se disse indignado com a informação de que sua filha, a vereadora carioca Cristiane Brasil, recebeu R$90 mil de Brandão para a campanha.

- Ele não ajudou só minha filha. Ele financiou um bando de gente. Financiou Carlos Wilson e o pai dele, Wilson Campos, a vida inteira. Ele vive se hospedando na casa dele. Carlos Wilson é um homem sério, do PT, e quantas vezes foi financiado por ele? - denunciou Jefferson.

Senadores pressionaram Jefferson para que desse mais indícios de corrupção em estatais. Pedro Simon (PMDB-RS) chegou a sugerir que o Congresso poderia anistiá-lo se colaborasse mais com a comissão. O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) reagiu:

- Não concordo com qualquer acordo que transija sobre a ética parlamentar. Corrupção é intolerável - disse Cardozo.