Título: Coordenação Política vai mesmo acabar
Autor:
Fonte: O Globo, 02/07/2005, O País, p. 12

Articulação será pulverizada entre três ministros petistas

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai mesmo acabar com o Ministério da Coordenação Política hoje ocupado por Aldo Rebelo, do PCdoB. O presidente deverá confirmar um novo modelo para a articulação política, com ação pulverizada que terá como principais agentes três ministros petistas.

Os projetos de interesse do governo no Congresso passarão a ser articulados pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda) e o controle sobre a liberação de emendas parlamentares será atribuição de Paulo Bernardo, do Planejamento. E o ministro Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, terá a tarefa adicional de receber parlamentares no Palácio do Planalto e fazer o contato de deputados e senadores com o presidente Lula.

Lula já teria informado a Wagner o novo modelo da articulação política. Segundo assessores do presidente, a preocupação de Lula seria, entre outras, a de proteger o Palácio do Planalto do varejo da política. Ainda traumatizado com o caso Waldomiro Diniz, ex-assessor parlamentar da Casa Civil flagrado cobrando propina de um bicheiro, o presidente quer preservar o próprio Wagner, que passaria ser o braço político do Planalto.

Lula também pretende extinguir o núcleo duro

Outra novidade que pode ser anunciada com a reforma ministerial é o fim da existência formal do núcleo de coordenação política, o chamado núcleo duro. Essa é mais uma herança do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu que Lula pretende extinguir. Nos últimos dias, Lula conversou com alguns ministros sobre a intenção de ampliar sua interlocução no governo, passando a chamar mais ministros que gravitam fora da órbita palaciana.

Pelo novo modelo de ação política, o governo passará a enviar ao Congresso projetos que sejam de interesse comum e que possam ser apoiados pela oposição. Foi neste contexto que há duas semanas o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, conversou com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). Um grupo de ministros políticos será acionado para ajudar na aprovação dos projetos de interesse do governo. Pela pauta atual do Congresso, são projetos relacionados aos ministérios da área econômica, o que facilitará, portanto, a entrada de Palocci como negociador oficial do governo.