Título: Procurador da Fazenda ligado a Valério é afastado
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 02/07/2005, O País, p. 13

Glênio Guedes será convocado pela PF a prestar depoimento no inquérito que investiga o publicitário mineiro

BRASÍLIA. No dia em que O GLOBO noticiou que o procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes mantinha contatos freqüentes e tinha contas pagas pelo publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional afastou-o ontem do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional. Guedes foi mais um a cair em conseqüência das denúncias de corrupção, que já causaram a queda de diretores de três estatais (Correios, Furnas e IRB) e do ministro José Dirceu.

Guedes integrava o órgão desde 1998 e era um dos procuradores responsáveis pela emissão de pareceres nos julgamentos do conselho, que analisa recursos administrativos apresentados por instituições financeiras multadas ou punidas pelo Banco Central, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou pela Secretaria de Comércio Exterior.

A Polícia Federal informou ontem que Guedes será convocado a prestar depoimento no inquérito que investiga a atuação de Marcos Valério.

Procurador terá que devolver processos

Por meio da assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda, a Procuradoria informou que "até a divulgação das denúncias publicadas nos jornais esta semana, não havia nada que desabonasse a conduta de Glênio Guedes". Ainda de acordo com a assessoria, o procurador, que mora no Rio de Janeiro, foi convocado ontem mesmo para prestar esclarecimentos em Brasília.

Além de ter sido afastado, Guedes vai devolver todos os processos dos quais estava cuidando dentro do conselho e um outro procurador será designado para seu lugar. Também será aberta uma sindicância dentro da PGFN para apurar as denúncias.

Ontem, Guedes não respondeu a e-mail enviado pelo GLOBO. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda não forneceu seu número de telefone nem deu informações sobre sua defesa. A assessoria esclareceu que Guedes não foi autor do parecer de um processo do Banco Rural julgado pelo conselho em 18 de agosto de 2003. Na ocasião, o recurso apresentado pela instituição foi aprovado e a punição de afastar por três anos das funções de dirigente o diretor José Augusto Dumont, com quem Marcos Valério tinha ligações, foi arquivada.

O nome de Guedes apareceu na agenda da ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio, que registrou, entre maio e dezembro de 2003, mais de dez referências ao nome do procurador. As anotações tratavam da compra de passagens aéreas, do pagamento de diárias de hotéis em Brasília e em São Paulo e do agendamento de encontros. A ex-secretária também informou que as contas do telefone celular do procurador eram pagas pela SMP&B, agência de publicidade de Marcos Valério.