Título: AUTOR DE PROJETO CONTRA NEPOTISMO É EXECUTADO
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 02/07/2005, O País, p. 15

Vereador foi assassinado por quatro homens em Pernambuco. Ameaças começaram quando proposta entrou em discussão

RECIFE. Autor de projeto de lei que proíbe o nepotismo na prefeitura e no Legislativo de Carpina, o vereador e radialista José Amorim Filho, o Jota Cândido (PDT), de 45 anos, foi executado no município, a 58 quilômetros de Recife. O crime ocorreu 41 dias após ele ter sido ferido num atentado e pedido garantia de vida ao governo do estado e segurança à Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.

Cândido se dizia marcado para morrer. Desde que seu projeto começou a tramitar na Câmara passou a ser ameaçado, bem como os três integrantes da Comissão de Constituição e Justiça que analisaram a proposta. O projeto foi vetado pelo prefeito de Carpina, Manoel Severino da Silva, o Manoel Botafogo (PSDB). Os vereadores se preparavam para derrubar o veto em sessão na próxima quarta-feira, mas a reunião foi cancelada e ainda não tem nova data.

Cândido foi abordado por quatro homens em duas motos às 6h45m de ontem, quando chegava à rádio Alternativa, onde trabalhava. Ele foi alvejado no tórax e na cabeça. No local foram recolhidas 19 cápsulas de pistolas 380 e 9mm.

Na rádio, Cândido fazia programas em que denunciava grupos de extermínio e irregularidades administrativas na região. Em 21 de maio, foi baleado no ombro e no dia 23 pediu segurança ao governo do estado e denunciou o fato à Procuradoria de Justiça de Pernambuco. O delegado de Carpina, Artur Tito Mendes, disse que a motivação política é uma das linhas de investigação.

O prefeito, Manoel Botafogo, decretou luto oficial de três dias na cidade. Falou rapidamente com a imprensa de manhã e sumiu à tarde. Seu celular estava desligado e um funcionário da prefeitura informou que fora orientado pelo advogado do prefeito a não conversar mais com a imprensa. O tucano é acusado pela deputada Carla Lapa (PSB) de ter contratado 28 parentes na prefeitura. Pouco antes de morrer, Cândido enviou a ele um requerimento pedindo informações sobre o total de parentes contratados.

- Ele disse que até o final do seu mandato Cândido receberia uma resposta. Foi uma atitude irônica e sem respeito - disse ontem a deputada.

Carla enviou uma carta ao Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, solicitando que a Polícia Federal entre no caso:

- Está claro que o crime tem natureza política. Ele denunciava irregularidades da prefeitura e as perseguições aumentaram depois da lei antinepotismo - afirmou a deputada.

Legenda da foto: O VELÓRIO DE CÂNDIDO: ferido em atentado, ele havia pedido proteção