Título: GUARDAS DE PRESÍDIOS DECIDEM ENTRAR EM GREVE
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Fonte: O Globo, 02/07/2005, Rio, p. 25

Corregedoria de Polícia Civil abre sindicância para apurar protestos na Assembléia Legislativa

Os agentes penitenciários decretaram ontem greve por tempo indeterminado a partir de hoje. Os presos das penitenciárias estaduais podem ficar sem visitas e banhos de sol. Em assembléia na Central do Brasil, cerca de 150 agentes decidiram cruzar os braços ao rejeitarem a proposta de pagamento de uma gratificação de R$500 apresentada pelo governo do estado. O abono será pago a agentes que trabalham diretamente nas celas - os chamados "trancas" - que optarem por uma escala de 12 horas de serviço por 36 de folga.

PMs se reúnem no dia 7 para discutir protesto

A paralisação dos agentes começa dois dias depois da aprovação da greve branca dos policiais civis, contra a proposta de reajuste de 17%, a ser pago em cinco parcelas. Os policiais militares e os bombeiros fazem assembléia no próximo dia 7, às 17h, no Centro. Os PMs também devem aprovar algum tipo de manifestação contra o aumento anunciado pelo estado.

- Sabemos dos esforços do secretário Astério Pereira para tentar resolver nossos problemas, mas não podemos aceitar a proposta. Vamos parar até o governo atender as nossas reivindicações mínimas. Queremos ter o mesmo tratamento dado aos policiais civis e militares - disse o diretor de Comunicação do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Alcy Coutinho.

A Secretaria de Administração Penitenciária informou ontem que todos os serviços essenciais nos presídios, incluindo as visitas dos parentes de presos, serão mantidos. Para isto, solicitou apoio da PM e deverá enviar o pessoal administrativo para ajudar nos presídios.

Após cerca de três horas de reunião com representantes do comando de greve da Polícia Civil, o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, afirmou ontem à tarde que está mantido o índice de 17% de reajuste, em cinco parcelas, oferecido pela governadora Rosinha Garotinho a todos os 110 mil policiais civis e militares ativos, aposentados e na reserva, do estado. Segundo ele, o impacto do aumento na folha de pagamentos será de mais R$34 milhões mensais. Sempre frisando que não há greve no estado, a única esperança que Itagiba deu aos representantes dos policiais - que reivindicam 69% de reajuste - foi a possibilidade de futuras negociações para a incorporação da gratificação especial de atividade (Geat) ao salário da categoria.

- Nenhuma outra categoria recebeu um reajuste destes (17%). Não somos máquinas de fazer dinheiro - disse o secretário, que assinou resolução, publicada no Diário Oficial de ontem, proibindo a realização de greve por policiais. - As delegacias estão trabalhando normalmente. A segurança da população está garantida.

Marcelo Itagiba determinou que o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, adote medidas administrativas e disciplinares, inclusive o corte de ponto e o recolhimento da carteira funcional, do distintivo e da arma patrimonial dos que vierem a fazer greve:

- Arma e distintivo são instrumentos de trabalho. Se o policial não está trabalhando, não precisa deles. E ninguém pode receber sem trabalhar - disse o secretário.

A Corregedoria de Polícia Civil instaurou sindicâncias para apurar os protestos feitos anteontem por policiais armados, em vias públicas e na Alerj, e a denúncia de que um policial da 12ª DP (Copacabana) teria se recusado a registrar uma ocorrência: a da estudante Vanessa Maciel, de 24 anos, que saiu da delegacia revoltada ontem de manhã. Ela tentava registrar uma ameaça de morte que sofreu, mas não conseguiu.

- Eles disseram que estavam em greve e mandaram procurar a Rosinha. Senti-me desprotegida - reclamou ela.

Sindicalista diz que procura caiu pela metade

Apesar da greve declarada pelos policiais civis, boa parte das delegacias funcionou quase normalmente ontem. Pela manhã, o movimento de pessoas tentando registrar queixas aparentava ser pequeno. Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Fernando Bandeira, a procura nas delegacias caiu pela metade porque a população já sabia da greve. A maioria das pessoas que estiveram nas delegacias da Zona Sul, por exemplo, era atendida.

Legenda da foto: NA CENTRAL do Brasil, os guardas aprovam proposta de greve