Título: `Publicidade do Brasil é mais criativa¿
Autor: Graça Magalhães
Fonte: O Globo, 25/10/2004, Economia, p. 21

Um dos publicitários mais premiados do mundo, Hermann Vaske chega ao Rio para participar do 30 Festival Internacional de Publicidade, que começa hoje. O alemão, que já ganhou o Leão de Cannes como diretor de cinema e mais de cem prêmios, classificou o Brasil de meca da publicidade e como um dos três países do mundo mais criativos, ao lado de Inglaterra e Estados Unidos. Segundo ele, há atualmente uma crise no setor publicitário, resultado da instabilidade econômica. Ele acredita, porém, que seu efeito é positivo, porque ¿as crises fazem bem à criatividade¿.

Foi difícil chegar em poucos anos ao topo da publicidade européia?

HERMANN VASKE: Acho que consegui chegar onde cheguei, porque consegui realizar minhas idéias. Muita gente tem idéias, mas tem problemas na sua realização ou as esquecem nas gavetas. As idéias empoeiram em uma prateleira. O sucesso está relacionado com a força de vontade. Também foi importante para a minha agência (Emotional Network) ter conseguido despertar o entusiasmo de outras pessoas para os meus projetos. Por isso, ela fez sucesso desde o início, com projetos como o com Dennis Hopper e outras pessoas conhecidas e interessantes.

Quando descobriu o seu talento para a publicidade?

VASKE: Estudei na Universidade de Belas Artes, em Berlim, no início dos anos 80. Fiquei fascinado pela publicidade desde o inicio do estudo, porque era uma chance de ter idéias para solucionar os problemas apresentados. Precisava atuar na área de textos, de fazer filmes. Era um desafio fascinante.

Qual é o seu anúncio publicitário preferido?

VASKE: Ganhei recentemente um prêmio de publicidade em Munique, por um anúncio para a emissora Classic Radio. Mas também as campanhas para a BMW, para a companhia ferroviária alemã, ou a série ¿Why are you creative¿, exibida pela TV Arte, estão na lista dos meus trabalhos preferidos. Procuro nesses trabalhos apresentar uma idéia não determinada pelo tempo e pela moda atual.

A concorrência na publicidade é difícil na Europa?

VASKE: A concorrência na publicidade é enorme não só na Europa, mas no mundo inteiro. Na publicidade há uma luta constante. Todos lutam por novas idéias, lutam para tomar os clientes dos concorrentes. É uma concorrência extrema, permanente. Trata-se de um desafio constante que, porém, me agrada. Como eu gosto de ser confrontado com problemas, não me sinto importunado pela luta da concorrência, que é enorme também nos EUA, no Brasil ou na Ásia.

Na sua opinião quais são os países que têm a publicidade mais criativa?

VASKE: Observando a última década, eu diria que os melhores são a Inglaterra, os Estados Unidos e o Brasil. Para mim, este é o trio dos países que tem mais criatividade.

Quem são, no Brasil, os publicitários que têm mais criatividade?

VASKE: Gosto muito do trabalho do Washington Olivetto, do Marcelo Serpa, que conheço muito bem. Há outros também muito bons, mas eu não me lembro de todos os nomes. Estive várias vezes no Brasil nos últimos anos, no Rio, em São Paulo, em Salvador e em Curitiba.

O que o senhor espera do congresso de publicidade que será realizado no Rio?

VASKE: Alegro-me muito com a expectativa de ver de novo o entusiasmo dos brasileiros. Vou falar no congresso de publicidade do Rio sobre como cuidar da idéia publicitária. Para mim, trata-se de um divertimento criativo falar sobre criatividade na cidade do Rio de Janeiro.

O senhor é também cineasta e seus filmes já foram premiados. O que gosta mais de fazer: filmes ou publicidade?

VASKE: Gosto dos dois, da maratona quando se trata de um longa metragem. Na regra, são cerca de dois anos de trabalho, com uma fase intensiva de preparos. Mas eu gosto também do trabalho de curto prazo da publicidade como, por exemplo, um anúncio para a televisão de 30 segundos. O melhor é quando há sinergia entre as duas atividades, de forma que uma possa influenciar a outra.

Em muitos países, os meios de comunicação têm reclamado de uma redução dos anúncios publicitários. O senhor tem notado essa tendência no seu trabalho?

VASKE: É verdade. Os anos 90 dourados acabaram. Mas, por outro lado, o processo tem aspectos positivos. Hoje há menos charlatães na publicidade. Acho que as crises fazem bem à criatividade. Os bons ficam e tornam-se ainda mais criativos para sobreviver. Os anúncios tediosos não têm mais chance nos dias de hoje.

O que gosta de fazer no seu tempo livre?

VASKE: Gosto de assistir a filmes. Quer dizer, também no lazer continuo fazendo o que gosto de fazer. Acho que a minha profissão é também o meu hobby .