Título: `ATUAL SISTEMA SE ESGOTOU, O POVO NÃO ACEITA MAIS¿
Autor: Cristiane Jungblut e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 07/07/2005, O País, p. 10

`Há uma revolta e chegou a hora de mudar definitivamente¿, diz o tucano Tasso Jereissati

BRASÍLIA. As trocas de comando anunciadas ontem pelo governo em três ministérios ¿ Saúde, Comunicações e Minas e Energia ¿ foram criticadas por petistas e pela oposição antes mesmo da posse dos novos ministros, filiados ao PMDB. A primeira flechada partiu do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), para quem o presidente Lula perdeu a oportunidade de inovar e mudar os métodos de escolha para o primeiro escalão e para cargos de confiança.

Nos últimos dias, dirigentes do PMDB, em especial o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador e ex-presidente José Sarney (AP), entravam e saíam do Palácio do Planalto em intensas reuniões para negociação de nomes para o Ministério em troca de apoio.

¿ Nem o presidente nem nós no Congresso compreendemos que há uma revolta e que chegou a hora de mudar definitivamente. E começa pela reforma administrativa. O atual sistema se esgotou, o povo não aceita mais. E infelizmente nem o presidente nem os políticos perceberam. Enquanto a ficha não cair, nem governo nem Congresso, como instituição, vão recuperar a credibilidade ¿ avaliou Tasso Jereissati.

Senador discute com ministro em jantar

Ele manifestou essa posição anteontem à noite num jantar que reuniu parlamentares e empresários na casa do deputado Delfim Netto (PP-SP). E chegou a discutir com o ministro Jaques Wagner, que discordou quando o senador disse que esse pensamento também era compartilhado por muitos petistas.

¿ Não fale por mim ¿ reagiu Wagner.

Mas o deputado Paulo Delgado (PT-MG) concorda com o tucano. Para ele, a reforma, como anunciada, é insuficiente:

¿ O que amplia a força do governo é a unidade em torno de programas e projetos, e não ocupação de cargos. Mas espero que o PMDB venha com as quatro letras para o governo.

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), também criticou a reforma e disse que Lula perdeu a possibilidade de promover a recuperação de sua credibilidade:

¿ Isso só seria possível com corte drástico no número de ministérios e com a busca de figuras exponenciais da sociedade ¿ apontou o pefelista.

Tasso pede reforma administrativa drástica

Na opinião de Tasso, para ganhar novo fôlego o governo Lula teria de fazer uma reforma administrativa drástica, com cortes no número de ministérios e cargos de confiança, além de apresentar uma proposta de reforma política real.

¿ O país assiste perplexo como se dão as nomeações no governo, como se trocam e escolhem cargos em função de interesses fisiológicos. Na melhor das hipóteses, quando se fala em reforma ministerial, espera-se uma grande mudança. Primeiro, de métodos. Em seguida, que esses novos métodos levem a maior eficácia e transparência. A troca de três ministros não é reforma e não atinge a nenhum dos dois objetivos ¿ afirmou o senador.