Título: Valério não explica saques milionários no caixa
Autor: Maria Lima/Adriana Vasconcelos/ Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 07/07/2005, O País, p. 5

Publicitário se nega a revelar destino do dinheiro e depois diz que usou para pagar a fornecedores e fazer investimentos BRASÍLIA. O publicitário Marcos Valério não conseguiu explicar os saques milionários em dinheiro vivo feitos nos últimos dois anos nas contas de suas empresas no Banco do Brasil e no Banco Rural. Ele tentou se esquivar alegando que só tomou conhecimento do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) pela imprensa. Depois, em sua mais recente versão, disse que usou o dinheiro para pagamento de fornecedores e para investimentos das empresas, que recusou-se a esclarecer quais são: ¿ Os investimentos serão revelados no foro adequado. Me reservo ao direito de não revelar esses investimentos ¿ limitou-se a declarar o publicitário, escorado pelo habeas-corpus conquistado no dia anterior. ¿Não uso contas de laranjas senador¿ Valério alegou que os pagamentos de fornecedores estão todos relacionados em sua contabilidade, entregue à CPI, e que a Receita Federal estaria dentro de suas empresas fazendo o levantamento. ¿ Quando o senhor vai ter condições de detalhar o motivo desses saques mostrados pelo Coaf? ¿ perguntou a senador Ideli Salvati (PT-SC). ¿ Não confirmo esses dados, contesto esse relatório. Tenho que ver minha contabilidade ¿ respondeu Valério. Os parlamentares insistiram e Valério citou o pagamento de fornecedores, entre eles cachês de artistas e filmagens de comerciais. Disse que muitos saques feitos em dinheiro vivo eram depositados em outras contas no próprio banco. ¿ Dinheiro vivo em outras contas, de laranjas? ¿ questionou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). ¿ Não uso contas de laranjas senador ¿ respondeu ele. Perguntado se poderia discriminar os pagamentos, ele disse que colocaria os dados à disposição da CPI. Sobre a existência de R$ 450 milhões de origem não identificada em suas empresas, disse que a Receita deverá explicar o que houve: ¿ Não me lembro de tudo. Sobre a coincidência das datas dos saques com a de viagens e votações importantes no Congresso, atribuiu ao acaso: ¿ Foi uma coincidência do acaso. Insatisfeitos, os membros da CPI avisaram que ele deve ser novamente convocado. Acusado de ser o operador do mensalão e peça importante de um esquema de captação de recursos para financiamento de partidos, Valério chamou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de mentiroso e negou que tenha discutido cargos nos encontros com o líder do PMDB José Borba (PR): ¿ Daqui a pouco vou ser um ministro sem pasta. Ele confirmou ter estreitas ligações com dirigentes do PT e do governo, relatou vários encontros com o ex-secretário geral do PT Sílvio Pereira, com o ex-ministro José Dirceu, com Marcos Flora, que pertence à Secretaria de Comunicação de Governo, mas disse que nada que pudesse dizer teria força para derrubar o presidente Lula. ¿ Não me dou essa importância. Sou um cidadão comum envolvido no maior imbróglio dos últimos tempos e não tem nada que diga que vá tirar o sono das pessoas no governo. A república não vai cair por minha causa, o país vai continuar crescendo, os deputados vão se reeleger. Se eu morrer hoje, só vão chorar a minha mulher e os meus filhos. Eu? Eu acabei, eu morri ¿ desabafou. Valério chegou a sugerir a contratação de uma auditoria independente para checar as denúncias de superfaturamento dos contratos que tem com empresas públicas. Valério desmente ter contratado filho de Lula Os membros da CPI, no entanto, disseram que só podem avançar depois de receberem os dados da quebra de sigilo, já aprovados. ¿ Ele terá que ser novamente convocado. Não explicou os saques, está mentindo muito. Mas as provas estão começando a chegar ¿ disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). Valério disse desconhecer que a Estratégica, outra de suas empresas, responsável pelas campanhas de prefeito de Osasco, São Bernardo e Petrópolis, tenha contratado parentes ou filhos do presidente Lula ano passado. ¿ Que eu saiba não. Eu nem sei o nome dos filhos do presidente Lula. Mas eu não toco essa empresa ¿ disse. Ele confirmou ter encontrado com Roberto Jefferson duas vezes: uma na sede do PTB e outra num restaurante, no Rio. Mas jura não saber o que é mensalão. Discutiram, segundo ele, campanhas. ¿ O senhor deu R$4 milhões ao PTB? ¿ perguntou o senador César Borges (PFL-BA) ¿ É mentira...