Título: UM HOMEM DE MAIS DE UMA DEZENA DE EMPRESAS
Autor: Adriana Vasconcelos/Toni Marques/Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 07/07/2005, O País, p. 8

Publicitário admite que usou nomes de funcionários para abrir firma por causa de problemas com Receita e Justiça

BRASÍLIA. O publicitário Marcos Valério confirmou ontem na CPI dos Correios que usou os nomes de funcionários de uma de suas agências, a SMP&B, para abrir uma empresa porque estava com problemas na Receita Federal e na Justiça. Disse ainda que transferiu seus principais negócios para nome da mulher, Renilda, por conta de uma disputa judicial com o empresário Clésio Andrade, vice-governador de Minas Gerais. O seu nome e o da mulher Renilda aparecem nos registros de 14 empresas.

Valério tentou explicar o emaranhado de empresas das quais é sócio, conforme antecipou O GLOBO. Na DNA e SMP&B, as duas agências que têm contas do governo federal, Valério não tem uma participação direta. Participa da sociedade através da Graffiti, que tem como sócios a mulher Renilda Santiago Fernandes de Souza e Ramon Cardoso.

Valério disse que mantém até hoje as sociedades em nome de Renilda porque teve uma disputa acirrada, quase pessoal, com Clésio quando desfez a sociedade em 1998 e por isso transferiu as empresas para a mulher, mas depois que a disputa acabou não conseguiu rever a operação.

¿ Até por questão de família não consegui mais transferir essas empresas para o meu nome. Para falar a verdade, minha esposa achou que eu poderia separar dela ¿ disse.

O publicitário também é sócio com Renilda na 2-S Participações Ltda, que foi criada inicialmente em nome de Adriana Fantini Boato e Orlando Martins. Adriana é secretária da SMP&B e principal testemunha do processo por tentativa de extorsão que Valério move na Justiça contra a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio. Orlando Martins é o chefe dos boys na SMP&B.

¿ Estava com problemas na Receita federal e na Justiça e não conseguia tirar o CNPJ. Pedi a dois funcionários de minha confiança para abrirem a empresa depois transferi para meu nome e o de minha mulher Renilda e declarei ao Imposto de Renda. Fui o laranja português ¿ disse.

Valério mencionou ainda a sua participação na Multi Action, uma empresa de eventos que presta serviços para o Banco do Brasil e outras empresas. Disse que ele e os demais sócios da DNA e SMP&B criaram a empresa M 5 Participações para gerir a Multi Action. Eles pretendiam desvincular a empresa de eventos das agências porque ela prestaria serviços para outras empresas de comunicação.

¿ Não queríamos aparecer. Não queríamos que a Multi Action ficasse carimbada como empresas da área de comunicação ¿ afirmou Valério.

O publicitário mencionou também a empresa JVN Participações, que teria sido criada para abrigar futuros imóveis comprados para os filhos de 13 e 4 anos. E disse que criara outra empresa com o cunhado Humberto Estáquio Santiago, a S.F. Assessoria Empresarial, sociedade já encerrada.

Outra empresa é a Estratégica Marketing e Promoção, criada em 2004 para fazer campanhas políticas, segundo o publicitário. Ele também é sócio da empresa Tolentino & Melo Assessoria Empresarial, junto com o advogado Rogério Lanza Tolentino.

O publicitário não mencionou no depoimento pelo menos três empresas onde aparece como sócio, segundo registros da Junta Comercial de Belo Horizonte e o registro civil de pessoas jurídicas. Ele omitiu a criação da Novo Mundo Participações, em parceria com Renee Anunciação. Renee é ex-funcionário da SMP&B e declarou ao GLOBO que não sabia dessa sociedade. Valério é sócio ainda da Pouso Alegre Editorações.