Título: Valério fez de graça campanhas do PT em 2004
Autor: Adriana Vasconcelos/Toni Marques/Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 07/07/2005, O País, p. 8

Candidatos em Osasco, São Bernardo do Campo e Petrópolis foram ajudados pela Estratégica, do publicitário Adauri Antunes Barbosa BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. O publicitário Marcos Valério admitiu ontem em seu depoimento que uma de suas empresas, a Estratégica Arte e Promoção, fez campanhas para candidaturas petistas em 2004. Valério disse que sua agência atuou nas eleições municipais em Osasco e São Bernardo do Campo, em São Paulo, e Petrópolis, no Rio. Em diversos casos, ele nada teria cobrado. Entre os beneficiários está o petista Virgílio Guimarães (PT-MG), que foi quem o apresentou ao tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, e chegou a acompanhá-lo em visitas a diretores do Banco Central. O deputado Roberto Brant (PFL-MG) também não precisou pagar pelos serviços do publicitário. Em Petrópolis, foi a mesma coisa. O presidente do PT na cidade, Wilson Franca, confirmou ontem que a Estratégica trabalhou sem cobrar nada na campanha do candidato do partido a prefeito, Paulo Mustrangi, ano passado. O serviço entrou na prestação de contas da campanha como doação da Estratégia no valor de R$15 mil, segundo Franca. O envolvimento de Valério nessas campanhas políticas teria sido formalizado a partir de conversas com Sílvio Pereira, secretário-geral do PT afastado do cargo. Com Sílvio, Valério disse que só tratava de política. Além de serviços gratuitos, Marcos Valério também admitiu ter presenteado o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o secretário-executivo da Secretaria de Comunicação do Governo, Marcos Flora, com canetas Mont Blanc. João Paulo recebeu o presente no seu aniversário, na época em que era presidente da Câmara. Ele contratou a SMP&B Comunicação para prestar serviços à instituição pelo valor de R$8,8 milhões. Já Flora ganhou a caneta, segundo Valério, como brinde. Assessoria para Vicentinho em SP

Em São Paulo, o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP) confirmou que Valério assessorou sua campanha a prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a cidade onde mora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da empresa Estratégica. A empresa de Valério lhe foi indicada por Delúbio. Vicentinho, no entanto, não se lembra se a Estratégica repassou algum trabalho ou se contratou para algum serviço de publicidade o filho do presidente, Fábio Luiz Lula da Silva. ¿ A Estratégica, do Marcos Valério, prestou sim consultoria para minha campanha no ano passado em São Bernardo, por indicação do Delúbio, mas não me lembro do filho do Lula ter sido contratado por ele. Não me lembro de ter visto o filho do Lula na minha campanha. Só se ele participou como militante, como colaborador. Eu não o contratei ¿ disse ontem Vicentinho. A informação de que o filho de Lula pode ter feito trabalhos em conjunto com Valério foi dada ontem na CPI dos Correios pelo deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). ¿ Os rumores que ouvi dão conta que se chamaria Fábio o filho do presidente contratado para trabalhar na campanha de São Bernardo do Campo ¿ disse Paes, citando a empresa de comunicação G-4 como supostamente pertencente a Fábio.

Vicentinho disse que nunca ouviu falar na G-4. A campanha de Vicentinho, contudo, não registrou no TSE que a Estratégica trabalhou para sua campanha. Segundo o tesoureiro da campanha de Vicentinho, José Nelson Banhara, o pagamento de R$20 mil à Estratégica foi feito pela Reaquil Assessoria Empresarial, que doou o dinheiro e pagou a empresa. Por isso, a campanha só registrou a doação da Reaquil. No total, a campanha de Vicentinho declarou ter gasto R$865 mil. Vicentinho disse que tomou conhecimento de que a Estratégica também ajudou na campanha do petista Emidio de Souza à prefeitura de Osasco, na Grande São Paulo. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o PT de Osasco pagou R$140 mil à Estratégica. Agora, a SMP&B, agência de Valério, é uma das empresas habilitadas em licitação para receber as contas de publicidade da prefeitura petista de Osasco, no valor de R$3 milhões. Por decisão judicial, a cidade de Petrópolis teve propaganda eleitoral gratuita no ano passado, veiculada por um canal a cabo, a TV Cidade Imperial, que pleiteara na Justiça o direito de veicular a propaganda. Petrópolis, por não ser sede de emissora, não tinha, até o ano passado, propaganda eleitoral gratuita. Diante da decisão, o diretório local pediu ajuda ao PT estadual e ao nacional, disse Franca, incluindo o presidente da Casa da Moeda, Manoel Severino dos Santos, e o secretário de comunicação do partido, Marcelo Sereno. Franca afirma não saber, porém, quem indicou a empresa de Marcos Valério. ¿ Nós não conhecemos o Marcos Valério ¿ disse ele. ¿ Quando saiu a decisão da Justiça, pedimos ajuda à direção nacional e à estadual para fazer a campanha na TV. A nossa campanha foi pobre, tivemos muita dificuldade. O partido foi então procurado por Márcio Hiram Guimarães Novaes, sócio de Marcos Valério na Estratégica, para doar produção, gravação e edição dos programas.