Título: PREVIDÊNCIA: GOVERNO QUER ZERAR DÉFICIT EM 5 ANOS
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 07/07/2005, Economia, p. 29

Para eliminar débito de R$40 bilhões, Palocci e Lula analisaram o setor e discutiram medidas com consultores

SÃO PAULO. O choque de gestão prometido pelo governo federal vai começar pela Previdência. A idéia em estudo é ampliar o alcance do pacote anunciado há dois meses para controlar o déficit do setor, que incluiu medidas de combate a fraudes e maior fiscalização na concessão dos benefícios. Desta vez, o governo pretende fixar uma meta de cinco anos para a eliminação total desse déficit, que hoje está entre R$37 bilhões e R$40 bilhões.

Um diagnóstico da Previdência e as medidas para atingir essa redução progressiva do déficit foi o tema de uma reunião na terça-feira entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e representantes de consultorias privadas. Segundo Palocci, que está à frente das discussões, o trabalho será divulgado mais oportunamente.

¿ O foco do governo é acabar com essa sangria na Previdência. Se os desperdícios nessa área forem controlados, não precisaremos reduzir os gastos em áreas prioritárias ¿ afirmou ele, após almoço na sede da Fiesp.

O primeiro pacote foi divulgado pelo ministro da Previdência, Romero Jucá, e citava uma meta menos ambiciosa para o corte de despesas: redução de 40% até dezembro do próximo ano. Segundo Palocci, os benefícios previdenciários cresceram a uma média anual de 7,2% nos cinco últimos anos do governo Fernando Henrique. Já no governo Lula, esse percentual subiu para 9,1%.

O projeto surge num momento em que o governo busca apoio público para limitar ainda mais os gastos públicos, visando a proteger a economia dos efeitos da crise política. Palocci é visto como figura central nesse esforço. Já sua intervenção na Previdência seria explicada, segundo rumores, pelo fato de que deve partir dele a indicação de um novo ministro para a pasta, como parte da reforma ministerial costurada por Lula.

Palocci: limite para gastos durante seis a dez anos

As discussões sobre gastos públicos têm como base uma proposta apresentada pelo deputado Delfim Netto, que foi discutida num jantar na terça-feira em Brasília e ainda no almoço de ontem na Fiesp. Mas Palocci negou que o governo pretenda estabelecer o déficit nominal zero como meta.

¿ O que se discute é a limitação dos gastos públicos correntes num longo período, de seis, dez anos ¿ disse ele.

Segundo o ministro, a manutenção da meta de superávit primário de 4,25% do PIB por um longo período seria melhor para a dívida do governo do que o cumprimento de déficit nominal zero por curto período.

¿ É possível que um esforço fiscal traga no longo prazo um déficit zero, mas isso não seria uma meta ¿ afirmou.