Título: BRASIL TROCARÁ TÍTULO DA DÍVIDA EXTERNA
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 07/07/2005, Economia, p. 29

Tesouro substituirá C-Bond por novos bônus globais para melhorar pagamentos

BRASÍLIA e RIO. O Tesouro Nacional informou ontem que analisa uma troca de dívida velha ¿ em papéis conhecidos como C-Bond ¿ por novos bônus globais. A última operação deste tipo foi feita em 2003, quando o governo substituiu US$1,3 bilhão de dois tipos de títulos bradies ¿ emitidos após a renegociação da dívida externa ¿ por novos papéis. Segundo o Tesouro, não há data para a troca. O anúncio antecipado foi para dar mais transparência aos investidores internacionais. O estoque de C-Bonds está em US$5,6 bilhões, com vencimento em 2014.

¿Com o objetivo de melhorar seu perfil de pagamentos futuros, o Tesouro está, neste momento, avaliando a conveniência de realizar, em breve, operação de troca visando à retirada do título da dívida externa C-Bond¿, diz a nota.

A substituição da dívida velha começou em 1997 e já somou US$14,8 bilhões. Restam ainda US$14 bilhões de títulos bradies, emitidos em 1994. A intenção do governo é mudar o perfil dos vencimentos da dívida externa. O C-Bond está entre os papéis brasileiros mais negociados no exterior e tem pagamento semestrais de juros e parcela principal nos meses de abril e outubro. Nos bônus globais, os investidores só recebem no vencimento.

Com esse tipo de operação, o governo se livra de papéis que carregam a herança do calote da dívida, o que arranha a imagem do país perante investidores internacionais. O México, por exemplo, já não tem mais papéis originados na grande moratória de 1982 negociados no mercado. Além disso, na troca o Brasil pode tentar emplacar títulos de vencimento mais longo, o que alivia a pressão sobre o caixa público e permite melhor administração do débito.

Analistas explicam que o Tesouro tem pagamentos elevados de principal da dívida nos próximos dois anos. Em 2006, são cerca de US$5 bilhões e em 2007, de US$6,7 bilhões.

¿ Ao trocar o C-Bond por papéis mais longos, o governo pulveriza o pagamento do principal e ainda atrai novos investidores, como alguns fundos de pensão, que hoje não podem comprar a cesta de títulos do Brasil pois são impedidos de ter bradies na carteira ¿ diz Leandro Brito, gerente de Mercados Emergentes da corretora inglesa Garban/Icap.

Outra vantagem da troca é que o governo possui a opção de recompra do C-Bond sempre que a cotação ultrapassar 100% do valor de face. Hoje está em 102%. Segundo analistas de mercado, esta cláusula impede uma valorização ainda maior do título, pois a um preço de 120% o Brasil pode recomprá-lo por 100%. Com isso, o risco-país do Brasil medido pelo banco JP Morgan acaba sendo prejudicado porque existe um limite de mercado para o C-Bond.

Analista: troca pode ajudar a reduzir o risco-Brasil

A intenção do Tesouro, porém, é fazer uma ¿troca voluntária¿, segundo uma fonte da equipe econômica.

¿ A troca melhora o perfil do endividamento brasileiro e pode ajudar na queda do risco-país ¿ afirma Luís Forbes, diretor de Mercados Emergentes da corretora López León.

A maior troca de dívida velha ocorreu em agosto de 2000 e movimentou US$5,1 bilhões. Os investidores entregaram bradies de vários prazos, e o governo emitiu um bônus com vencimento em 2040. Em 2003, o Brasil substituiu papéis de 2024 por US$1,3 bilhão de títulos que vencem em 2011 e 2024.

COLABOROU Patricia Eloy