Título: WOODWARD LANÇA LIVRO SOBRE SUA FONTE SECRETA
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 07/07/2005, O Mundo, p. 32 e 33

Jornalista do caso Watergate fala sobre Garganta Profunda

WASHINGTON. O enigma do Garganta Profunda, a lendária fonte confidencial de informações do repórter Bob Woodward, do ¿Washington Post¿, durante o Caso Watergate ¿ que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon ¿ permanece, mesmo com o lançamento, ontem, do livro em que o jornalista conta detalhes dos bastidores da investigação que realizara com seu colega Carl Bernstein.

Em ¿The secret man¿ (¿O homem secreto¿), Woodward traça um pungente perfil de sua fonte, o ex-número dois do FBI, a polícia federal americana, W. Mark Felt, hoje com 91 anos ¿ e que, um mês atrás, depois de 31 anos de sigilo, decidiu revelar-se, numa entrevista à revista ¿Vanity Fair¿.

No entanto, Woodward não consegue explicar o que muita gente gostaria de saber: os motivos que levaram o chamado Garganta Profunda a ajudá-lo a desvendar a fraude idealizada por Nixon contra o Partido Democrata. O máximo que consegue é especular entre várias opções, sendo a mais sólida delas uma possível vingança: com a morte de Edgar J. Hoover, o chefe do FBI, Felt imaginava ser elevado àquele posto, e foi preterido por um aliado de Nixon, que, na época, tentava impedir que o FBI se aprofundasse na investigação de Watergate.

Felt já está com memória comprometida

Muito embora o próprio Felt já tenha assinado um contrato com uma editora para contar a sua própria versão da história, é muito provável que a justificativa por tal ato não será apresentada adequadamente. Acontece que Felt sofre de perda de memória. Quando o próprio Woodward o procurou, três anos atrás, para reunir material para este livro mais recente, ficou frustrado: a lendária fonte já não se lembrava de muitos detalhes.

¿ Ele não conseguia se lembrar sequer de sua própria idade ¿ contou o repórter.

Meticuloso, Woodward não poupa a si próprio: ¿O meu retrato não é nada admirável. Eu fui agressivo, sigiloso. Eu usei Mark Felt e até menti a um colega para proteger a identidade de Felt¿ ¿ escreveu ele, referindo-se ao fato de que um de seus colegas de redação, há pouco tempo, descobrira quem era Garganta Profunda e disse a Woodward que escreveria um artigo a respeito. Este, no entanto, dissuadiu-o de fazer isso, negando a identidade de sua fonte.

Embora ¿The secret man¿ não contenha um retrato completo do Garganta Profunda, o livro é um relato memorável sobre o relacionamento entre um jornalista e seu informante, como escreveu a crítica Michiko Kakutani, no ¿New York Times¿, reafirma ¿o papel vital de fontes confidenciais para manter o público informado¿.