Título: Jornais criticam prisão nos EUA e defendem sigilo
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 07/07/2005, O Mundo, p. 32 e 33

Editores latino-americanos, americanos e europeus ressaltam importância do uso de informações de fontes anônimas BUENOS AIRES. A decisão da Justiça americana de prender a jornalista Judith Miller, do ¿New York Times¿ por ter se recusado a revelar suas fontes no caso do vazamento ilegal da identidade de uma agente da CIA foi duramente criticada ontem durante o seminário ¿Desafios do jornalismo real: os jornais na encruzilhada do século XXI¿, organizado pelo jornal ¿Clarín¿, um dos mais importantes da Argentina. Ouvidos pelo GLOBO, editores de importantes jornais americanos, europeus e latino-americanos questionaram a atitude do promotor especial Patrick J. Fitzgerald, encarregado do caso. ¿ Sentimos que o promotor atuou de forma incorreta. É realmente incompreensível o que está acontecendo, ele passou dos limites ¿ assegurou o editor-adjunto da editoria internacional do ¿New York Times¿, Ethan Bronner, que ontem participou de uma palestra sobre ¿O desafio da verdade¿ no jornalismo. Segundo ele, ¿muitas pessoas dizem que (o promotor) está atuando por influência de setores políticos, mas não temos provas. Só posso dizer que é um promotor durão que sente que a razão está do seu lado¿. O editor do jornal americano negou que a prisão da jornalista possa provocar mudanças no sistema de trabalho do NYT. ¿ A prisão de Judith não modificará em nada nossa maneira de exercer o jornalismo, continuaremos trabalhando como sempre, nada mudará. Judith está fazendo a coisa certa e nós defenderemos nossas convicções ¿ enfatizou. Na visão do diretor de redação do ¿El Pais¿, da Espanha, Jesús Ceberio, fontes anônimas são ferramenta fundamental para garantir a existência de uma imprensa livre. ¿ O que está acontecendo nos EUA mostra que existe uma fronteira difícil de delimitar: o que deve prevalecer, a investigação de um delito ou a preservação da fonte? Acho que o segredo profissional é uma ferramenta imprescindível para ter uma imprensa livre. Porque se a pessoa que está disposta a revelar uma determinada informação perde a garantia do anonimato certamente recuará em sua decisão ¿ explicou Ceberio. Na Espanha, comentou o jornalista, o segredo profissional está protegido pela Constituição. Os jornalistas argentinos também estão amparados por uma lei. No entanto, lamentou o secretário de redação do ¿La Nación¿, Héctor D¿Amico, ¿muitas vezes a Justiça exige que entreguemos documentos e é necessária a ação de nossos advogados¿. ¿ O que aconteceu é ruim e faz parte de uma ofensiva da Justiça contra vários aspectos do jornalismo. Os leitores devem imaginar a quantidade de histórias que foram boas para a Justiça, para esclarecer a verdade, que não poderiam ter sido investigadas sem as fontes ¿ afirmou D¿Amico.

Para ele, ¿muitas vezes a Justiça condena pequenos pecados dos jornalistas, quando esses servem para corrigir erros mais sérios¿.