Título: G-8: BATALHA CAMPAL ENTRE MANIFESTANTES E POLÍCIA
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 07/07/2005, O Mundo / Ciência e Vida, p. 35

Blair admite fazer concessões na meta de ajuda à África. Rainha Elizabeth recebe os participantes na Escócia PERTHSIRE, Escócia. A promessa de um dia menos tenso na abertura do encontro dos líderes do G-8 em Gleneagles, a 80 quilômetros de Edimburgo, ficou apenas na expectativa dos manifestantes mais pacíficos e das mais otimistas autoridades de segurança. Ontem, além de escaramuças, houve uma batalha campal entre policiais e mil manifestantes que haviam se afastado do percurso de uma marcha de protesto nos arredores do hotel e tentado furar barreiras de segurança. O efetivo precisou de reforços, enviados de helicóptero, para controlar a situação. Tumultos também no centro de Edimburgo Foram quase duas horas de enfrentamento, com a polícia escocesa sendo criticada pela decisão de, durante a manhã, cancelar a permissão para a realização da marcha quando mais de 100 ônibus com participantes já se aproximavam do ponto de partida, no vilarejo de Auchterarder. Quando voltou atrás, os manifestantes que já planejavam criar problemas se juntaram em busca de retaliação, ainda que outras quatro mil pessoas não tenham desafiado as tropas e percorressem o percurso pré-aprovado. Houve tumultos também no centro de Edimburgo, com a polícia bloqueando o acesso a pontos estratégicos como o Parlamento escocês e o Consulado dos EUA, além de fechar estradas e desviar trens que passariam pelos arredores de Gleneagles. Segundo o comandante das operações de segurança, comissário Peter Wilson, a polícia pretende vigiar ainda mais de perto futuros transtornos, o que sugere mais problemas nos próximos dois dias do evento. Do lado de dentro da fortaleza Gleneagles, onde a rainha Elizabeth recebeu os participantes, o clima também é de divergência. Ontem, num dia sem reuniões formais, o premier britânico, Tony Blair, rechaçou pressões dos EUA por uma redução nas metas de aumento da ajuda à África, a principal bandeira do governo britânico e ponto-chave da reunião na Escócia. Blair, que encontrou personalidades como o cantor Bono Vox, do U2, o diretor de cinema Richard Curtis e Bob Geldof, o organizador do Live 8, recusou-se a fazer especulações sobre os termos de um eventual acordo. Ele disse que vai lutar pelo que é justo, mas admitiu a possibilidade de concessões. ¿ Não é possível obter tudo o que se deseja em negociações internacionais, mas podemos fazer progresso substancial na questão africana ¿ disse. A proposta britânica é de que os países do G-8 dobrem o volume de recursos destinados ao continente mais pobre do mundo até 2010, que chegaria a US$50 bilhões anuais. Os EUA, no entanto, querem garantias de que o dinheiro não será desviado ou desperdiçado pelos países beneficiados. Ontem, numa entrevista durante sua passagem pela Dinamarca a caminho da Escócia, o presidente George W. Bush, como era de de se esperar, defendeu a política externa americana, em especial a ocupação do Iraque. Bush voltou a afirmar que não ratificará qualquer tipo de compromisso de combate ao aquecimento global que inclua a redução na emissão de gás carbônico, outro ponto-chave das discussões na Escócia. ¿ Eu reconheço que a superfície da Terra está mais quente e que o aumento na emissão de gases está contribuindo para o problema. Mas acordos como o de Kioto arruinariam a economia americana, deixando um monte de gente desempregada ¿ disse o presidente. A União Européia, por sua vez, anunciou ontem um pacote de 1 bilhão de euros anuais para projetos de infra-estrutura e comércio na África. www.oglobo.com.br/mundo