Título: Uruguai: Larrañaga em franca ofensiva
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 25/10/2004, O Mundo, p. 24

Embora seja o candidato do tradicional Partido Blanco nas eleições presidenciais no Uruguai, marcadas para 31 de outubro, o senador Jorge Larrañaga assegura representar uma renovação no sistema político local. Após ter derrotado o ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995) nas eleições de seu partido, o principal objetivo de Larrañaga é impedir a vitória do socialista Tabaré Vázquez, líder da coalizão Encontro Progressista/Frente Ampla/Nova Maioria, no primeiro turno. Sua estratégia? Acusar Vázquez, que concorrerá pela terceira vez à Presidência, de moderar o discurso para chegar ao poder.

Senador é uma espéciede Palocci uruguaio

Segundo recentes pesquisas, o senador tem entre 30% e 32% das intenções de voto, contra 48% a 52% de Vázquez. Para vencer no primeiro turno, Vázquez precisa de 50% mais um dos votos. Trata-se de um grande desafio para a Frente Ampla, que há 15 anos governa Montevidéu mas nunca conseguiu a Presidência.

¿ Os uruguaios não sabem quais são as verdadeiras intenções da Frente Ampla. Não sabemos se estamos diante do movimento de Tabaré Vázquez, de Pepe Mujica (ex-guerrilheiro e atual deputado pela Frente Ampla), ou dos setores mais radicais. Esta é uma Frente Ampla maquiada que busca mostrar-se como partido de centro para atrair mais votos ¿ disse Larrañaga em entrevista ao GLOBO.

Segundo o principal rival do líder socialista, ¿Vázquez designou o senador Danilo Astori futuro ministro da Economia para dar segurança aos mercados e aos investidores¿. Entre os economistas uruguaios, Astori é considerado uma espécie de Palocci uruguaio por defender a implementação de políticas econômicas ortodoxas. Semana passada, a Frente Ampla divulgou o documento ¿O governo da mudança¿ no qual reconhece o papel do mercado, a necessidade de preservar a disciplina fiscal e um clima de negócios no país. ¿ Não podemos esquecer que no passado Vázquez se opôs ao sistema de previdência estatal, à entrada de investimentos estrangeiros no país e à política econômica atual que hoje diz que não vai mudar. Repito: seu partido aplicou uma maquiagem porque percebeu que somente assim teria chances de vencer ¿ enfatizou.

Larrañaga é um típico fazendeiro uruguaio. Casado com a professora Ana María Vidal Elhordoy e pai de três filhos, este advogado representa a classe alta uruguaia, conservadora. Sua família foi envolvida num escândalo que contaminou a campanha. Larrañaga foi acusado por um jornal de bater na mulher. O caso provocou um debate nacional sobre a vida pessoal do candidato, que negou as acusações.

Candidato defende atual presidente, muito impopular

Larrañaga se define como representante do centro-nacionalismo e, apesar de reconhecer que o governo do presidente Jorge Battle não cumpriu grande parte das promessas da campanha de 1999, defende o governo, um dos mais impopulares da América Latina.

¿ O governo de Battle enfrentou muitas dificuldades vinculadas a problemas externos e internos. Nosso partido ajudou a construir uma saída para evitar um calote da dívida pública, como aconteceu na Argentina ¿ assegurou.

Larrañaga seria o quarto presidente do Partido Blanco em 174 anos. Desde a primeira eleição presidencial no país, em 1830, o Partido Colorado, de Batlle, dominou fortemente o cenário político local.

¿ Queremos crescimento com justiça, novas políticas sociais ¿ disse, defendendo ¿um bom relacionamento com os presidentes do Mercosul¿.

Ele acrescentou:

¿ Conversei com (Néstor) Kirchner (da Argentina) e pretendo solicitar entrevista com Lula após o primeiro turno.

Em relação aos direitos humanos, o candidato propõe encerrar as discussões sobre os crimes cometidos durante a ditadura (1973-1985):

¿ A revisão do passado poderia causar enorme dano à sociedade uruguaia.