Título: SEM CARGO NO GOVERNO, TESOUREIRO DO PT TINHA TRÂNSITO LIVRE NOS GABINETES
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 06/07/2005, O País, p. 4

Delúbio chegou a integrar comitiva de Lula em viagem à África em 2003

SÃO PAULO. Professor de matemática que virou tesoureiro do PT, Delúbio Soares tornou-se homem-forte do ex-ministro e ex-presidente do partido José Dirceu, mas já foi mais ligado ao hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como Lula, saiu do sindicalismo. Do trabalho à frente da tesouraria da Central Única dos Trabalhadores (CUT), passou pelo Conselho do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) até ganhar a chave do cofre do partido que ajudou a fundar em 1980 e que, no ano passado, arrecadou R$48,1 milhões junto a filiados e empresários.

Ligado ao núcleo forte do PT, encabeçado pelo ex-ministro José Dirceu, desde a eleição do presidente Lula, o tesoureiro tinha trânsito livre na administração federal. Circulou e fez reuniões no Planalto e chegou a acompanhar Lula em viagem à África em novembro de 2003. Uma das provas de que Delúbio circula com facilidade nos mais diferentes gabinetes foi presenciada pelos oito mil habitantes de Buriti Alegre, cidade onde nasceu, em Goiás. Em 6 de janeiro de 2003, três aviões e um ônibus levaram para a festa de Santo Reis, organizada há décadas pela mãe de Delúbio, autoridades e celebridades, incluindo governadores, o publicitário Duda Mendonça e o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto.

Carreira política começou na presidência da CUT em Goiás

A sua influência naquele estado vem de longa data. Filho de pecuaristas semi-analfabetos, começou na política no fim dos anos 70, paralelamente à trajetória de Lula. Naquela época, anos depois de falsificar a carteirinha da Universidade Federal de Goiás para comer de graça no restaurante da universidade, Delúbio já liderava greve de professores. Daí, foi um pulo para assumir a presidência da CUT em Goiás. Hoje, aos 49 anos, trocou calças e sapatos surrados por finos ternos e camisas de linho, sem esconder sua preferência por caros charutos cubanos.

Ao assumir a Secretaria nacional de Finanças e Planejamento do PT, no entanto, Delúbio começou a aparecer envolvido em fatos que levantaram suspeitas. Em agosto de 2004, O GLOBO revelou que as terras da família do petista tinham dobrado de tamanho desde 2003. À época, a comerciante Divina Inácio Naves, que vendera três propriedades para o pai de Delúbio, declarou que o pagamento fora feito pelo próprio petista "em dinheiro vivo" porque "o cheque não podia aparecer". As fazendas foram registradas em cartório com valor abaixo do preço de mercado, estimado em R$800 mil.

Ex-tesoureiro nega compra de carro de luxo à vista

Mais tarde, Delúbio voltou a ser alvo de denúncias. Desta vez em razão da compra de um automóvel de luxo, Toyota Corolla, avaliado em R$73 mil. Delúbio teria pago à vista pelo carro. Ele nega e diz que pagou em três parcelas.

Desde que se transformou em alvo preferencial das denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson, Delúbio tem acusado setores da oposição e da imprensa de tentar desestabilizar o governo Lula. Em discurso a militantes em Goiás, semana passada, chorou e acusou "a direita" de estar por trás de suposto movimento para atingir Lula. Casado com Mônica Valente, também integrante da executiva nacional do PT, Delúbio mora em São Paulo num apartamento que - faz questão de dizer - é alugado há 14 anos.