Título: Petistas conseguem impedir CPI de quebrar sigilo de Delúbio e Sílvio
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 06/07/2005, O País, p. 4

Congresso cria comissão para apurar mensalão e compra de votos no governo FH

BRASÍLIA. Com a ajuda do presidente interino da CPI dos Correios, Maguito Vilela (PMDB-GO), os petistas impediram ontem a votação dos requerimentos de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico do PT, do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e do ex-secretário-geral Sílvio Pereira. Numa sessão tensa, Maguito se negou a pôr em votação os requerimentos para convocação de Sílvio e do presidente do PT, José Genoino, e a marcar o depoimento de Delúbio para dia 14.

Os autores dos requerimentos querem marcar para o mesmo dia os depoimentos de Delúbio e Sílvio, e na terça-feira seguinte, dia 19, os de Genoino e do deputado José Dirceu (PT-SP).

- Não há razão para a pauta que foi deliberada nessa CPI ser desprezada. Os depoentes estão vindo para cá, ficam o dia inteiro à nossa disposição e às vezes nem são ouvidos - pediu a senadora Ideli Salvati (PT-SC).

O argumento vitorioso dos governistas foi que a pauta de depoimentos de ontem não poderia ser atropelada.

- Não há intenção de tumultuar. Essas pessoas estão diretamente envolvidas até o pescoço com todas essas denúncias e precisam vir aqui ajudar nas investigações - disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).

- Seguirei a pauta de depoimentos. Temos quatro depoentes. Se der tempo deliberamos sobre outros assuntos. Se não, paciência! - avisou Maguito.

Acordo permitiu criaçãoda CPI do Mensalão

À noite, acordo no Congresso permitiu a criação da CPI mista para investigar o pagamento do mensalão a parlamentares governistas. A CPI vai apurar também a denúncia sobre compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição no governo Fernando Henrique Cardoso. Essa foi a base do acordo entre governo e oposição para permitir a realização da sessão do Congresso e enterrar a idéia de uma CPI sobre o assunto restrita à Cãmara. Agora, cabe aos líderes a indicação dos representantes dos partidos. Se não o fizerem, caberá ao presidente do Congresso a escolha.

A CPI, com 17 senadores e 17 deputados, terá 120 dias de trabalho. Só deve começar a funcionar no entanto em agosto, depois do recesso. Durante mais de duas semanas o governo trabalhou para aprovar a CPI da Câmara. Além de retirar a urgência de cinco projetos, o próprio presidente Lula atuou, editando um Diário Oficial extraordinário, com apenas uma medida provisória que anulava uma outra, com o objetivo de destrancar a pauta de votações. Nem assim os governistas impediram que a oposição fosse vitoriosa.

- Política é assim. A gente discute semanas para chegar ao óbvio. Ainda bem que prevaleceu o bom senso - capitulou o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES).

Legenda da foto: A SESSÃO DA CPI: intenção da oposição é que Genoino preste depoimento no dia 19, junto com Dirceu