Título: MARCOS VALÉRIO QUIS TRABALHAR PARA PT NO RIO
Autor: Bernardo de la Peña e Chico Otavio
Fonte: O Globo, 06/07/2005, O País, p. 8

Informação é do presidente da Casa da Moeda, que se reuniu com publicitário três vezes

O presidente da Casa da Moeda do Brasil, Manoel Severino dos Santos, indicado para o cargo pelo PT, admitiu ontem ter se encontrado três vezes com o publicitário Marcos Valério, acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o operador do mensalão. Segundo Manoel Severino, o publicitário queria, no primeiro encontro, saber da possibilidade de fazer serviços de publicidade para a Casa da Moeda. Nos outros dois encontros, no fim de 2003, disse, Valério teria oferecido seus préstimos para campanhas municipais do PT.

Manoel Severino não era da executiva do PT, mas também não explicou por que foi procurado. Sobre a oferta de Valério de fazer contratos com a Casa da Moeda, disse:

- Não existem contratos entre a Casa da Moeda e as empresas de Marcos Valério.

A Casa da Moeda não contrata publicidade, informação que deveria ser de conhecimento de um experiente publicitário acostumado a vencer licitações governamentais.

Petista diz não saber quem o indicou a Marcos Valério

O primeiro encontro, segundo Manoel Severino dos Santos, ocorreu em julho de 2003. O segundo e o terceiro ocorreram no fim do mesmo ano. A agenda da ex-secretária de Marcos Valério Fernanda Karina registrou quatro encontros. Manoel Severino afirma que os encontros foram três. Nenhum, afirmou, aconteceu na sede da Casa da Moeda.

- Ele queria me consultar e me falou das empresas dele. Fui procurado por ele porque ele estava interessado em participar da campanha eleitoral (de 2004). Estava apresentando seus serviços - disse o presidente da Casa da Moeda.

Manoel Severino não soube explicar, porém, por que Marcos Valério não procurou primeiramente o presidente do partido no Estado do Rio, deputado estadual Gilberto Palmares. Também não soube dizer quem recomendou ao publicitário procurar não um dirigente partidário, mas um militante que preside um órgão estritamente técnico.

Já o deputado disse que não sabia dos encontros de Manoel Severino e que jamais foi consultado sobre a possibilidade de o publicitário trabalhar no Rio de Janeiro.

- Ele (Marcos Valério) não me procurou - disse o deputado. - E nunca fui informado de que ele tinha vindo aqui, nem consultado sobre qualquer possibilidade de ele trabalhar nas campanhas do Rio do Rio de Janeiro.

Manoel Severino é ligado a Marcelo Sereno e a Benedita

Gilberto Palmares disse que se concentrou na campanha do deputado federal Jorge Bittar a prefeito. E que houve descentralização, no partido, de decisões sobre todas as campanhas fluminenses. Mas também o secretário-geral do partido no Estado do Rio, Alberto Cantalice, ignorava o interesse de Marcos Valério nas campanhas do PT.

- Isso não passou por mim - disse ele. - Não trabalhamos com as agências deles.

Cantalice foi o coordenador do grupo técnico eleitoral do partido no ano passado, ao qual também cabe coordenação geral sobre estratégias de propaganda.

Manoel Severino foi secretário do governo de Benedita da Silva (2002). Preside a Casa da Moeda desde 2003. Ele também é ligado a Marcelo Sereno, secretário de Comunicação do partido, e, segundo o advogado do PT no Rio, Luiz Paulo Viveiros de Castro, é companheiro do ex-tesoureiro Delúbio Soares na militância partidária.