Título: CORRIDA PARA O AEROPORTO
Autor: Fabiana Ribeiro/Mirelle de França/Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 06/07/2005, Economia, p. 21

Dólar e euro mais baratos estimulam viagens ao exterior e bancos já limitam venda de moedas

Ao largo da crise política, os bons sinais de economia estão fazendo a festa de brasileiros em férias. Com a queda das cotações do dólar e do euro, as agências de viagem estão vendendo montanhas de pacotes turísticos para o exterior. A procura por moeda estrangeira tem sido tão elevada que os bancos passaram a limitar a venda de dinheiro em espécie para os turistas.

Na última sexta-feira, quem queria comprar euros em espécie na agência do Citibank do Centro do Rio teve que se contentar com cheques de viagem (travelers), limitados a 2.500 euros para não correntistas. Em espécie, há o limite de 500 euros. No Departamento de Câmbio do Bradesco, também no Centro do Rio, não chegou a faltar moeda, mas para atender à grande demanda, as vendas em espécie - tanto em dólar como em euros - estão limitadas a 30% do total comprado, até o máximo de US$400 ou 400 euros por vez.

O Bradesco explica que as vendas dependem da disponibilidade diária, e o Citibank diz que as vendas em espécie já foram normalizadas.

- Quando os investidores viram o euro abaixo de R$3 e o dólar a menos de R$2,40, foram às compras. Ainda mais hoje em dia, já que o BC não impõe limites para compras - diz Hélio Ozaki, gerente de câmbio do Banco Rendimento.

A American Express não divulga valores, mas diz que as vendas de cheques de viagem feitas de janeiro a junho deste ano já superam todas as vendas registradas no ano passado, segundo diz Maria Teresa Echeverria, diretora de câmbio para a América Latina. Ontem, o euro turismo estava cotado a R$2,97 para compras em espécie no Bradesco e R$2,92 em cheques. Já o dólar valia R$2,48 (espécie) e R$2,43 (cheques).

Viagem internacional tem até fila de espera

Este ano, a cotação do euro já caiu 22% em relação ao real, e a do dólar, 10,44%. No caso da moeda americana, a cotação está em seu menor nível dos últimos três anos. O comportamento do câmbio mudou a rota dos turistas brasileiros, que, nos últimos anos, davam preferência a destinos nacionais. Para as férias de julho, agências e operadores de turismo registraram aumento médio de 30% na venda de viagens internacionais, em relação a igual período de 2004. Já os pacotes domésticos caíram em até 20%.

O principal destino dos brasileiros nessas férias é Bariloche, na Argentina, e Disney e Nova York, nos Estados Unidos.

- Quem deixou para o último minuto terá de esperar cancelamento ou vôos de última hora - diz Carlos Alberto Amorim Ferreira, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav).

Para se ter idéia, a operadora Urbi et Orbi embarca, este mês, 1.100 pessoas apenas para Bariloche - 30% a mais do que em 2004. Já o pacote da Serra Gaúcha, uma das vedetes do ano passado, está 15% abaixo do esperado. Na CVC, as vendas para destinos internacionais cresceram entre 40% e 50% em relação a 2004.

- Nesta época do ano, vendíamos muitos pacotes para resorts brasileiros e estávamos lotados. Este ano, ainda temos vagas, mas, em compensação, aumentaram as vendas para Cuba, Aruba e Cancún - disse o gerente da filial internacional do Rio, Weber Cecchetti.

- A cada dez pacotes vendidos, sete são internacionais. Em 2004, a cada dez, eram seis nacionais - acrescenta Marco Aurélio Bessi, gerente comercial da Shangri-Lá.

As companhias aéreas também festejam. O diretor de Vendas e Marketing da American Airlines, Gilson Verçosa, destacou que a ocupação dos vôos da empresa saltou de 75%, no ano passado, para 92% este ano, nos sete vôos diários que a empresa opera a partir do Brasil.

- Havia uma demanda reprimida muito grande em relação às viagens internacionais, principalmente para os EUA - disse o executivo.

Na TAM, informou, estão lotados os vôos de São Paulo para Miami e Paris, cujas passagens custam US$885 e US$998, respectivamente. Agora, só aguardando desistências de reservas. Já na Gol, cujo único destino internacional é Buenos Aires, ainda há passagens. Na Varig há vagas nos vôos internacionais mais procurados (Frankfurt, Nova York, Paris, Miami e Tóquio), que estão com ocupação de 70%. A expectativa é chegar aos 80% de ocupação na alta temporada.

Josué Meza, diretor-geral da United Airlines, afirmou que a taxa de ocupação dos vôos da empresa está excelente, mantendo os níveis do ano passado, quando chegou a 92%. Ele não descarta um aumento até o fim do período. São Francisco, Los Angeles, Las Vegas e Washington são os mais procurados e têm preço a partir de US$1 mil.

- Já temos lista de espera em alguns vôos. O dólar baixo está ajudando, mas também o processo de renovação do visto e o fato de os brasileiros terem se acostumado com as normas de segurança dos Estados Unidos depois de 11 de Setembro - frisou Meza, concordando com o colega da American Airlines.

Ainda há lugares nos vôos da Air France e da KLM, cujos destinos mais procurados são Paris e Amsterdam, respectivamente. A taxa de ocupação está alta, em torno de 80%. O grupo informou, ainda, que a retomada econômica do Brasil impulsionou as viagens para o exterior, embora julho e agosto sejam, por tradição, meses com alta procura.

A fisioterapeuta Camila Cortez embarca no próximo dia 24 para o Canadá. Sua intenção era, no entanto, viajar antes dessa data. Mas, diz ela, os vôos para o país estavam lotados.

- Comprei o último assento no avião. Tinha reservado passagens para os dia 20 e 25 e, quando fui confirmá-las, já era tarde - diz Camila que pagou R$3.100 pela passagem, parcelados em seis vezes.

inclui quadro: o comportamento das moedas / a queda do dólar / o euro em relação às moedas de outros países