Título: FIPE, FGV E DIEESE REGISTRAM DEFLAÇÃO EM JUNHO. SP: MENOR ÍNDICE EM 5 ANOS
Autor: Carlos Vasconcellos e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 06/07/2005, Economia, p. 23

Queda de preços de alimentos e no setor de transportes faz taxas caírem

RIO e SÃO PAULO. Três índices de preços divulgados ontem registraram deflação em junho. O IPC da Fipe, que mede os preços ao consumidor em São Paulo, ficou em 0,08%. Foi a primeira vez desde julho de 2003 que a inflação na cidade apresentou variação negativa e a maior deflação nesse índice desde o -0,23% de fevereiro de 2000. Já o ICV, do Dieese, que mede o custo de vida paulista, ficou em -0,17% no mês passado. E o IPC-S, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que apura a inflação a cada período de quatro semanas, confirma a tendência: ficou em -0,05% entre 1º e 30 de junho.

Os produtos agrícolas, cujas safras têm sido favorecidas pelo clima, garantindo a oferta, foram os grandes responsáveis pelo resultado do IPC da Fipe no mês passado. O grupo alimentação teve a maior queda no mês: 1,39%. O grupo transportes também apresentou deflação (0,11%), puxado principalmente pelo álcool combustível, que ficou 9,75% mais barato em média no mês passado.

- O número (do IPC) chama a atenção, mas não representa tendência. A deflação (queda do nível geral dos preços) de junho foi algo pontual e deveu-se principalmente à oferta maior de produtos agrícolas - disse o coordenador do IPC da Fipe, Paulo Picchetti.

Para este mês, Picchetti prevê o IPC próximo de zero e uma nova deflação não está descartada. Nos primeiros seis meses do ano, o IPC acumula alta de 2,72%, mas o coordenador da Fipe mantém inalterada sua projeção para o IPC, entre 5% e 5,5%, este ano.

Ex-diretor do BC recomenda redução de juros em julho

Os preços de alimentos e transportes também foram responsáveis pela deflação do IPC-S. Esses itens foram os únicos a registrar deflação, de 1,92% e 0,10%, respectivamente.

- A curva da inflação pode virar um pouco nas próximas medições, pois a desaceleração de alguns itens está chegando ao limite - disse o coordenador do IPC da FGV, André Braz.

Segundo Braz, os próximos índices deverão ser afetados pelo recente aumento nas tarifas de telefonia fixa. Esse efeito, no entanto, pode ser minimizado por uma redução de cerca de 2% - ainda não confirmada - na tarifa da Eletropaulo para consumidores residenciais.

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, a deflação nesses índices não é sinal de desaceleração econômica. Segundo ele, a atividade econômica já atingiu o fundo do poço no primeiro trimestre e o momento seria de recuperação. A deflação se justificaria pelo que ele chama de "choques externos positivos", como a queda dos preços das commodities importadas pelo Brasil e o dólar fraco. Freitas prevê para junho um IPC de zero ou próximo disso:

- Agora o BC tem toda a munição para reduzir os juros. Esperar agosto ou setembro serviria apenas para aumentar a dívida pública e dar um tiro no próprio pé - concluiu.