Título: LEMBRANÇAS DO ACORDO PT-PTB EM GOIÁS
Autor: Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 08/07/2005, O País, p. 3

Wendell dirigiu também para Delúbio e para ex-assessora de José Dirceu no Planalto

GOIÂNIA. Ex-militante do movimento estudantil, Wendell Resende de Oliveira, 28 anos, demonstra conhecer a fundo os bastidores do PT goiano, que tem em Delúbio Soares seu principal nome. Já dirigiu para o próprio Delúbio e para a ex-assessora especial da Casa Civil Sandra Cabral, que antes de ser convidada para trabalhar no Planalto com José Dirceu assessorava em Goiânia a deputada Neide Aparecida.

Das conversas que ouvia de Delúbio e da deputada, ele lembra especialmente do acordo que o PT firmou ano passado com o PTB de Goiás, para que os petebistas apoiassem a candidatura de Pedro Wilson à reeleição. O ex-motorista diz que se lembra de ter ouvido Delúbio atender telefonemas do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) cobrando o cumprimento do acerto financeiro. Segundo o relato, Jovair reclamava do atraso no repasse de dinheiro prometido por Delúbio ao PTB goiano.

- Ainda não está na mão - teria dito Delúbio ao petebista, conforme a lembrança de Wendell.

O ex-motorista de Neide Aparecida afirma também que Delúbio fazia repasses mensais ao escritório da deputada em Goiânia. Ele conta que os valores eram depositados em São Paulo, em diferentes contas de assessores de Neide. Cada conta, segundo ele diz, recebia R$5 mil. Em seguida, os assessores sacavam a quantia e repassavam à deputada.

Neide admite viagem do motorista a São Paulo

Neide Aparecida nega as denúncias, mas admite que Wendell esteve em São Paulo a serviço. Pela assessoria, a deputada diz que o motorista viajou para buscar material de campanha.

Também por meio da assessoria do PT, Delúbio rechaçou as declarações de Wendell.

- Delúbio nega que tenha enviado qualquer quantia em dinheiro por meio de motorista ou por quem quer que seja. Se veio algum motorista enviado pela Neide, e isso não há como checar, provavelmente foi para buscar material como camiseta ou adesivo - declarou uma assessora.

Irmão de Delúbio, Carlos Soares negou ter recebido parte do dinheiro.

- Se veio pela mão da Neide, ficou na mão dela. Na minha mão não chegou dólar, infelizmente - disse ele, comerciante em Goiânia, acrescentando não ter tido ajuda do irmão famoso. - Tive ajuda, sim, de algumas empresas ligadas a mim mesmo e ao Carlos Rubens, meu irmão mais velho.

O prefeito de Quirinópolis e irmão de Neide Aparecida diz ter recebido ajuda da deputada, mas afirma que esse auxílio limitou-se a material de campanha.

- De dinheiro não me lembro.

Wendell trabalhava para Neide Aparecida desde 2000, quando ela tentou, sem êxito, uma vaga de vereadora em Goiânia. Derrotada, ela assumiu a presidência da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), na gestão do também petista Pedro Wilson. Ele foi junto, como motorista, em cargo comissionado. Em 2002, Neide Aparecida candidatou-se a deputada federal e elegeu-se com mais de 80 mil votos, surpresa para quem antes não havia conseguido sequer ser vereadora.

Motorista foi exonerado ano passado por Iris Rezende

Até o fim do mandato de Pedro Wilson, Wendell continuou recebendo pela prefeitura, mas ficou à disposição da deputada. Até que, com a eleição de Iris Rezende (PMDB), ano passado, foi exonerado. A deputada teria se comprometido a manter seu emprego, com o salário de R$1.500, mas não conseguiu cumprir a promessa. Daí vem o motivo da denúncia: chateado, até hoje desempregado, aceitou contar tudo. O GLOBO chegou a Wendell por meio de um ex-petista que sabia do desejo do ex-motorista de fazer as revelações.