Título: Em dia de histeria, CPI quebra sigilo de Jefferson mas preserva petistas
Autor: Adriana Vasconcelos/Evandro Éboli/Maria Lima
Fonte: O Globo, 08/07/2005, O País, p. 4

'Tem gente que acha que vai ganhar no grito mas não vai', disse Bittar

BRASÍLIA. A CPI dos Correios viveu ontem um dia de histeria completa. Um requerimento apresentado pelo deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) propondo a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico do presidente do PT, José Genoino, do ex-secretário-geral do partido Sílvio Pereira, do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do deputado José Dirceu (PT-SP) deu início a uma tensa discussão entre representantes do governo e da oposição. Em meio a gritos, bate-bocas e até mesmo ameaça de agressões físicas, o senador Sibá Machado (PT-AC) conseguiu evitar a votação ao apresentar autorizações, enviadas por fax, pelos quatro petistas para que seus sigilos fossem quebrados.

Apesar do questionamento sobre o valor legal das autorizações, o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), deu o assunto por encerrado.

- Fax não tem valor legal. Por isso levanto uma questão de ordem e proponho que a quebra de sigilo seja votada - protestou o deputado Ônyx Lorenzoni (PFL-RS).

- Considero esse requerimento superado tendo em vista a manifestação dos quatro representantes do PT de autorizar a quebra de seus sigilos - anunciou Delcídio, encerrando a discussão que se arrastava por mais de duas horas.

Sigilo de Jefferson também foi motivo de discussão

Além da discussão sobre o sigilo dos petistas, outro tema já tinha contribuído para deixar tenso o clima na CPI: a proposta do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) e a senadora Ideli Salvati (PT-SC) de quebrar o sigilo do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A oposição concordou, mas a senadora Heloisa Helena (P-Sol-AL) argumentou que não seria justo quebrar só o sigilo de Jefferson e sugeriu que a medida fosse estendida também aos acusados por ele de patrocinar o esquema de pagamento do mensalão.

- A senadora Heloisa Helena tem toda a razão - concordou o deputado ACM Neto, apresentando em seguida requerimento sobre a quebra do sigilo de Genoino, Silvinho, Delúbio, Dirceu e de todos os integrantes da CPI, postos sob suspeita por Jefferson.

Foi o suficiente para se instalar o caos. De um lado os representantes do governo argumentavam que a proposta quebrava o acordo fechado mais cedo, no qual foi estabelecido que todos os pedidos de quebra de sigilo de pessoas físicas fossem votados na próxima semana. A oposição, por sua vez, rebatia alegando que o acordo já havia sido rompido com a votação da quebra do sigilo de Jefferson.

- Foi quebrado contra a minha vontade - lembrou Delcídio, tentando, em vão, restabelecer a ordem na sessão.

Nervoso e gaguejando, o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) partiu para o ataque:

- A oposição tenta o tempo todo sangrar o PT e o governo Lula. Tem gente que acha que vai ganhar no grito, mas não vai. Eu também sei gritar! Quero ser ouvido!

- Dá um suco de maracujá para ele! - ironizou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).

Bittar prosseguiu gritando sob as vaias de alguns colegas:

- O deputado Roberto Jefferson teve privilégios nesta comissão que ninguém teve. O deputado José Dirceu é um homem de bem. O Genoino também. Não aceito acusações de quem apoiou a ditadura, que torturou e matou, nem de quem ajudou a comprar a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.

- O deputado Bittar não foi tão incisivo no depoimento do deputado Roberto Jefferson como está sendo agora com o PSDB. Acho que ele amarelou - retrucou o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).

O deputado Maurício Rands (PT-PE) tomou as dores do colega, mas o senador tucano mais uma vez reagiu:

- O deputado Rands não vai fazer comigo o que fez com a senadora Heloisa Helena.

Na semana passada, os dois quase se agrediram fisicamente durante discussão acalorada.

- Da próxima vez não vamos resolver no grito, mas no tapa - gritou Heloisa Helena.

Enquanto isso, o senador Sibá, de pé, gritava histérico:

- Eu quero falar! Liguei para o Delúbio, para o Genoino, o Sílvio Pereira e para o José Dirceu. Eles estão enviando autorizações permitindo a quebra de seus sigilos. Não tomem a minha palavra, que coisa!

No fundo da CPI, parlamentares lamentavam o espetáculo promovido pelos colegas.

- Gritos e berros só depõem contra a imagem de todo o Congresso. Precisamos honrar nossos mandatos - ponderou José Eduardo Cardozo.

- Devemos um pedido de desculpas à sociedade por isso tudo. Se ninguém tem humildade para fazê-lo, eu o farei. Trouxemos para aqui esse circo. Para mim, moralmente, já estão quebrados os sigilos de Dirceu, Delúbio, Genoino e Sílvio Pereira - acrescentou ACM Neto.

Ainda indefinida data do depoimento de Delúbio

Por unanimidade, os integrantes da CPI aprovaram a convocação de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, para depor na comissão. Será a primeira vez, desde o início do escândalo do mensalão, que um ex-integrante da cúpula do partido se sentará na comissão para falar das denúncias. Ainda não foi decidida a data do depoimento.

A CPI aprovou também a convocação da mulher de Marcos Valério, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, que tem em seu nome várias empresas que pertencem ao publicitário. Em depoimento anteontem, Valério afirmou que transferiu as empresas para o nome de Renilda porque ela tinha receio de que se separassem. Os parlamentares aprovaram também convocar duas funcionárias da agência SMP&B, Geiza Dias dos Santos e Simone Vasconcelos, do departamento financeiro da empresa.

Legenda da foto: IRRITADA, a senadora Ideli Salvatti (PT) protesta aos gritos contra a leitura da nota de Roberto Jefferson