Título: DNA recebeu R$490 milhões de empresas
Autor: Chico Otavio/Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 08/07/2005, O País, p. 8

Instituições que fizeram os depósitos bancários não constam como clientes da agência do publicitário

BRASÍLIA. A CPI dos Correios investiga se contas bancárias da DNA, agência do publicitário Marcos Valério de Souza, foram usadas para o pagamento de propina a dirigentes públicos ou para outros fins ainda inexplicados. A suspeita surgiu com um comunicado do Banco do Brasil ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), entregue à CPI, no qual a instituição informa que, de 1999 a 2005, a conta da DNA na agência Assembléia do Banco do Brasil, em Belo Horizonte, recebeu um total de R$490 milhões em depósitos não justificados.

O senador César Borges (PFL-BA), integrante da CPI, disse que Marcos Valério não soube explicar a origem de recursos depositados na conta. Anteontem, quando terminava o depoimento do publicitário, o senador baiano lembrou a Marcos Valério que as empresas citadas no comunicado do BB como responsáveis pelos depósitos não constam da carteira de clientes da DNA.

O documento do BB integra um dos quatro relatórios do Coaf entregues à CPI. O gabinete do senador baiano informou que, entre as empresas citadas no levantamento, constam os nomes da Amazônia Celular, Telemig, Banco Safra, ABN Bank, Unibanco, Bradesco e BankBoston. Cesar Borges explicou que o BB não informou valores e datas de cada depósito.

O senador disse que o volume elevado levanta a suspeita de que empresas privadas usem a DNA para contribuir para o "mensalão".

- Algum grande cliente pode estar escondido atrás deste depósito. É um modelo mais seguro do que os contratos de publicidade com as estatais, que sofrem a fiscalização do Tribunal de Contas e não oferecem muita margem para esse tipo de coisa - disse o senador.

Duas das empresas são controladas por Dantas

Da lista de empresas responsáveis pelos depósitos, duas são clientes da SMP&B, a Telemig Celular e a Amazônia Celular, ambas controladas pelo grupo do empresário Daniel Dantas. Em depoimento à Polícia Federal, a ex-secretária do publicitário mineiro Fernanda Karina Somaggio declarou que Marcos Valério mantinha contatos com Dantas.

Os depósitos, segundo o relatório do Coaf, foram feitos por transferência eletrônica disponível, instrumento bancário usado para valores acima de R$10 mil.

Marcos Valério, valendo-se da estratégia que utilizou durante todo o depoimento, foi evasivo sobre o assunto: "Estou tendo esta informação agora", alegou. César Borges disse que só dados do sigilo bancário das empresas do publicitário poderão esclarecer as datas e os valores.

As cinco instituições financeiras citadas no relatório foram procuradas para falar sobre as operações. Em nota, a assessoria de imprensa do BankBoston informou que, pela legislação bancária vigente, "não nos é permitido comentar movimentação financeira de clientes". O Safra negou ter feito depósitos na conta da DNA. O Bradesco não quis comentar. O Unibanco e o ABN não responderam.