Título: Funcionários do Rural faziam remessas ilegais
Autor:
Fonte: O Globo, 08/07/2005, O País, p. 13

Procuradoria da República em Minas Gerais denuncia sete envolvidos em esquema de evasão de divisas

BELO HORIZONTE. A Procuradoria da República em Minas Gerais denunciou ontem sete pessoas suspeitas de participação num esquema de evasão de divisas através do Banco Rural: seis funcionários do alto escalão do banco e um homem suspeito de aliciar laranjas. De acordo com o Ministério Público Federal, o objetivo era sonegar impostos e enviar dinheiro, suspeito de ser ilegal, para o exterior, sem o conhecimento do Banco Central (BC). As investigações começaram há seis anos.

Segundo Rodrigo Leite Prado, um dos três procuradores que estão coordenando as investigações, os gestores do Banco Rural praticavam três irregularidades. A primeira acontecia numa operação cambial. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal , entre 1995 e 1996, o banco obteve vantagens no envio de dólares para a Rural Uruguai, uma instituição financeira que faz parte do mesmo grupo, com sede no Uruguai. Na época, o Banco Central distribuiu uma instrução normativa impedindo que os bancos brasileiros enviassem a moeda estrangeira para coligadas no exterior. A instituição brasileira usou contas em diversos bancos do Paraguai para que os dólares chegassem com taxas menores ao Uruguai.

Ministério Público e BC identificaram 328 laranjas

A segunda prática ilegal, apontada na denúncia é a falta identificação do remetente e do destinatário de quantias enviadas para o exterior, entre junho de 1995 a abril de 1996. Isto impediu saber de quem e para quem era o dinheiro.

Para o procurador da República, as irregularidades mais graves foram cometidas nas remessas de dinheiro para o exterior. De acordo com o MPF, uma determinada pessoa, já com o conhecimento do esquema, procurava os funcionários denunciados do banco para enviar altas quantias para contas no exterior sem o consentimento do BC. Segundo Rodrigo Prado, este dinheiro era colocado em várias contas de pessoas que apenas emprestavam o nome, em troca de uma pequena quantia em dinheiro, os laranjas. O Ministério Público, com a ajuda do BC, identificou 328 laranjas usados no esquema.

Toda a quantia era reunida em uma conta CC-5 (abertas somente para o envio de recursos para o exterior) na Rural Uruguai ou para a Rural International, outra empresa do mesmo grupo do Banco Rural, localizada nas Bahamas. Destes bancos, de acordo com o MPF, era feito o envio de dinheiro para contas de laranjas ou inexistentes. O Ministério Público acredita que somente neste último esquema, usando contas CC-5, foram movimentados U$4,8 bilhões.

O processo está na 4ª Vara da Justiça Federal de Minas Gerais, especializada em crimes financeiros. O Banco Rural informou que já forneceu todas as informações pedidas pelo Ministério Público e só vai se pronunciar sobre o caso após notificação oficial.